PASTOR CELSO SOARES NETO

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terça-feira, 1 de março de 2011

HAMARTIOLOGIA GRAÇA JUSTIFICAÇÃO EXPIAÇÃO




 

HAMARTIOLOGIA
 GRAÇA, JUSTIFICAÇÃO, EXPIAÇÃO

 



Dedicatória:

                A todos aqueles que são “nascidos de novo” (João 3), para que possam estar firmes na Palavra, conhecendo as profecias, crendo nelas, observando os sinais dos tempos, para que não sejam “confundidos por Ele na Sua vinda” (1 Jo 2:28), “Tendo o vosso viver honesto entre os gentios; para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem” (1 Pe 2:12). Sabendo, principalmente, que: “... ainda um pouquinho de tempo, e o que há de vir virá, e não tardará” (Hb 10:37).
                Aos ainda não salvos, com a esperança de que se arrependam e creiam, o quanto antes (Lucas 12:20), no Senhor Jesus Cristo, ÚNICO caminho que leva ao Pai (João 14:6), sabendo que “em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4:12).
                 E, principalmente:

“... ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus sábio, seja honra e glória para todo o sempre. Amém”.
(1Tm 1:17)

SOBRE VERSÃO

 

Pastor  Celso Soares Neto, filho de Pedro Maria Filho e Zilda Maria de Jesus, nascido em 15/01/1967, na cidade de Dores do Indaiá/MG a Avenida da Saudade 181 (conhecida com Beco do Cemitério),  onde vivi com meus pais e 14 (quatorze) irmãos, todos filhos de um mesmo casamento. Criado com muito amor e disciplina, também com grandes dificuldades financeiras.

Minha mãe padecia de diversas enfermidades, sendo assim fui praticamente criado por minhas duas irmãs Márcia e Aparecida.

Vim para Belo Horizonte ao 17(dezessete) anos para trabalhar no Banco Mercantil do Brasil, onde trabalhei por 11 (onze) anos, fui criado nesta época por minha irmã Branca e seu esposo Amadeu no qual foram meus segundo pais, de onde sai para casar em 1990.

Já casado passamos 06 (seis) anos sem Jesus em nosso casamento, mas faço menção ao meu cunhado Gerson Lopes Cançado, (in memorian) esposo da minha irmã Maria José, que muito me falava sobre Jesus, dando-me um Novo Testamento cumprindo assim em minha vida a palavra do Senhor que a semente (palavra) lançada não voltará vazia, também a minha amada sogra Maria das Mercês de Souza (in memorian) que tanto orou por mim e minha esposa.

Nos casamos na Igreja Batista do Barreiro, casamento celebrado pelo Pastor Carlos (conhecido como Carlão).

No tempo determinado por Deus, aceitei Jesus na Igreja Pentecostal Jesus é Amor, liderada pela Missionária Nilza, minha mãe na fé. Fui muito auxiliado,  por minha cunhada Mercês Maria, que aliás tem me ajudado espiritualmente até nos dias de hoje. Ao aceitar Jesus fui chamado para fazer parte do quadro de ceifeiros de sua obra, onde fui pastor por 04 (quatro) anos no Bairro Sol Nascente em Ibirité/MG.

Sendo direcionado pelo Senhor vim para Igreja Pentecostal Varões de Guerra, Congregação João Gomes Cardoso, onde permaneço até esta data, sendo pastor dirigente. Fui recebido pelo pastor presidente Ralph A. Assé, que me confiou a liderança desta igreja.

 

FORMAÇÃO TEOLÓGICA E ACADÊMICA


Médio em Teologia

STPMG - Seminário Teológico Pentecostal de MG

Registro: Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas nº 58.306, Livro A, Folha 3 e 4, CNPJ 16.748.089/0001-09

Capelania Cristã

ALACE - Associação Latino Americana de Capelania Evangélica

Registro do diploma: 2º cartório de registro de títulos e documentos de BH, nº 88.4683

Bacharel em Teologia Ministerial

ALACE - Associação Latino Americana de Capelania Evangélica

Registro: nº 11.9760, Lei Federal nº 10.51169, livro A, CNPJ 07.618.054/0001-04, com sede a Avenida Afonso Pena, 262/2009, Centro BH/MG

Registro do Aluno: 0209/05

Registro do diploma: 90.2832, no 2º cartório de registros e documentos/BH

Obs.: Nenhuma destas formações teriam sentido na minha vida se não fosse a presença viva e real do Espírito Santo de Deus no qual sempre agradeço essa dádiva que me foi concedida gratuitamente pela graça no Nosso Senhor e Salvador Jesus, que tributo toda honra, glória e louvor para Ele e por Ele até o fim dos séculos. Amém.


Bacharel em Administração (incompleto)

Instituto J. Andrade de Ensino Superior

Juatuba /MG

Registro do aluno: 11.01723


HAMARTIOLOGIA GRAÇA/JUSTIFICAÇÃO/EXPIAÇÃO


HAMARTIOLOGIA - DOUTRINA DO PECADO

Parte superior do formulário
01-   O QUE É PECADO?

Pecado é tudo que fazemos em desacordo com a vontade de Deus, contrário à Sua Palavra, em desobediência aos seus mandamentos. O pecado é um ato de rebeldia: "Todo aquele que pratica o pecado, também transgride a lei, pois o pecado é a transgressão da lei" (1 João 3.4). Há duas palavras gregas, dentre outras, para definir pecado: "HARMATIA" (transgredir, pecar contra Deus, praticar o mal) e "ADIKIA" (iniqüidade, maldade, injustiça).
02-   O QUE É PECADO ORIGINAL?

É o pecado herdado da desobediência de Adão e Eva. O primeiro homem, como representante da raça humana, corrompeu toda a humanidade ao transgredir a lei de Deus. O Senhor Deus ordenou ao homem: "De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás, pois no dia em que dela comeres, certamente morrerás". A mulher, dando ouvidos à serpente, comeu do fruto da árvore proibida e cometeu o primeiro pecado da humanidade. "Como semente gera semente da mesma espécie", nós, sementes de Adão, herdamos a natureza pecaminosa. Assim, "por um só homem entrou o pecado no mundo / pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus". (Gênesis 2.16-17; 3.1-6; Romanos 3.23; 5.12). A esperança é que se "pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de uns muitos serão feitos justos". (Romanos 5.19).
03 - E FILHOS DO DIABO, FILHOS DA IRA, FILHOS DA DESOBEDIÊNCIA, FILHOS DO  MUNDO E FILHOS DA CARNE?

São expressões equivalentes que caracterizam a situação dos que se encontram na prática do pecado, voluntária e continuamente (Lucas 16.8; Efésios 2.3; 1 Pedro 1.14; 1 João 3.10; Efésios 5.6; Romanos 9.8).

04 -   DEUS CRIOU O PECADO?

Não. Deus é amor. Deus não é a fonte do mal. Acontece que Ele deu ao homem liberdade para decidir. Deu-lhe o livre-arbítrio. No Éden, Deus estabeleceu o princípio da obediência. A obediência é necessária para que o homem viva em comunhão com Seu Criador. Muitos hoje em dia dão ouvidos ao diabo e desprezam as palavras de advertência do Criador. O resultado é a morte eterna. (Gênesis 2.17; Romanos 6.23).
05-   O QUE É REMISSÃO DE PECADOS?

Significa livramento da culpa do pecado. Remissão quer dizer perdão, redenção, quitação de uma dívida. Em certos contratos comerciais inserem-se um dispositivo chamado "cláusula de remissão", onde se define o preço da remissão, a fim de que o bem hipotecado seja liberado. Uma vez pago o  preço acertado, o bem hipotecado fica livre, sem ônus, sem impedimentos. O preço de nossa redenção, de nossa libertação, foi o sangue de Jesus: "Sem derramamento de sangue não há remissão". (Hebreus 9.22). "O Cristo padecerá, e ao terceiro dia ressurgirá dentre os mortos, e em seu nome se pregará o arrependimento e a REMISSÃO DOS PECADOS...". (Lucas 24.46-47). Sem arrependimento não há remissão dos pecados. Em Jesus "temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados". (Colossenses 1.14).
06 - O QUE É CONCUPISCÊNCIA?

É desejo carnal incontrolável. Diz respeito não apenas aos apetites sexuais, mas a bens e gozos materiais. É o desejo, sem domínio, de saciar a qualquer custo à vontade do corpo, da carne. Concupiscência dos olhos: desejo de ver ou presenciar cenas de violência, tumultos, pornografias, filmes eróticos, obscenidades, etc. Concupiscência dos ouvidos: desejo de ouvir piadas imorais; de ouvir músicas profanas; de dar ouvidos a boatos que agridem a privacidade das pessoas. Concupiscência dos lábios: desejo de dizer "palavrão", palavras imorais, chulas, indecentes; desejo de comentar e conversar sobre a intimidade das pessoas, das famílias, das autoridades. Concupiscência do estômago: apego excessivo a boas iguarias, ao bom prato, ou a determinada espécie de comida. (Gálatas 5.16-21). Concupiscência é sinônimo de avidez, cobiça e ganância. "Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo, a CONCUPISCÊNCIA da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo". (1 João 2.15-16).
07 - MASTURBAÇÃO É PECADO?

Masturbar-se é o ato de manipular os órgãos sexuais externos com a finalidade de atingir o orgasmo. A Bíblia não fala diretamente sobre o assunto, mas algumas passagens nos levam a considerar a  Masturbação pecado. Vejamos:
1) "Antes, andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos;e  éramos por natureza filhos da ira..."(Efésios2.3).

2) "Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências [desejo incontrolado]" (Romanos 6.12).

3) “Fugi da prostituição”. Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo; não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?"(1 Coríntios 6.18-19).

4) "Porque as obras da carne são: prostituição, impureza, lascívia... e coisas semelhantes a estas... os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus"(Gálatas 5.19-20). Lascívia/luxúria: libidinagem, sensualidade. Libidinoso: aquele que procura sem pudor o prazer sexual.

5) "Porque esta é à vontade de Deus, a vossa santificação... que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra, não na paixão de concupiscência...porque Deus não nos chamou para a imundícia, mas para a santificação" (1 Tessalonicenses 4.3-7). Não se pode negar a existência do impulso sexual nos seres humanos, impulso criado por Deus para um fim proveitoso - o da multiplicação da espécie humana, ou seja, o sexo entre homem e mulher, casados. (Gênesis 1.28). Todavia, homens e mulheres têm de várias formas pervertido esse desejo. O homossexualismo é uma dessas impurezas e desvio sexual. A masturbação é uma variante da impureza sexual: vicia, escraviza e causa morte espiritual. O nosso corpo não é para ser usado da maneira como bem entendemos: "Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma"(1Coríntios6.12). Os jovens certamente perguntarão: Como fazer para conter o forte desejo sexual? Devem primeiramente esvaziar a mente das imagens eróticas captadas via televisão, revistas, filmes e danças sensuais. Não devemos colocar coisas impuras diante de nossos olhos. Em segundo lugar, devem encher a mente, coração e alma com a palavra de Deus. Por último, orar, e orar muito, para não cair em tentação (Lucas 22.40). E poder dizer com Paulo: "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim" (Gálatas 2.20).

08 - O QUE SIGNIFICA “COMER E BEBER PARA SUA PRÓPRIA CONDENAÇÃO”?

A passagem está na primeira carta aos coríntios e inserida nas instruções de Paulo sobre a celebração da Ceia do Senhor: “PORQUE O QUE COME E BEBE INDIGNAMENTE COME E BEBE PARA SUA PRÓPRIA CONDENAÇÃO, NÃO DISCERNINDO O CORPO DO SENHOR” (1 Coríntios 11.29). Referência símile acha-se no verso 27: “Portanto, qualquer que comer este pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor”. “Indignamente” significa de forma indigna, não respeitosa, não reverente, não adequada. Peca contra o Senhor quem participa da Ceia de forma indiferente, sem reconhecer que os elementos da Ceia representam o corpo e o sangue de Cristo; sem a intenção de relembrar o Calvário. Os que participam da Ceia apenas para cumprir um ritual, uma cerimônia, sem a intenção de abandonar o pecado, “come e bebe para sua própria condenação”, pois não fazem distinção entre uma refeição normal e a Ceia. Quem assim procede “é culpado de crucificar de novo a Cristo e torna-se imediatamente sujeito a juízo e retribuição específicos”. Quem assim procede coloca-se do lado dos que se rebelam contra Cristo e Sua Palavra. É bom saber que os coríntios se reuniam periodicamente numa festa de confraternização, e cada família levava seu próprio alimento.. Por isso, Paulo recomenda: “Quando vos ajuntais para comer, esperai uns pelos outros”. Nessas festas os pobres ficavam com fome e os ricos ficavam “embriagados” de tanto comer (versos 21-22). Paulo não aprovou essas festas cristãs.
09 - HOMOSSEXUALISMO É PECADO?

Deus criou HOMEM e MULHER e lhes dotou de órgãos específicos e especialmente destinados à reprodução da espécie, chamados órgãos sexuais ou genitais. “Assim Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou. MACHO e FÊMEA os criou” (Gênesis 1.27). Homem e mulher possuem genitália apropriada à reprodução. Notem que Deus não criou meio termo, não criou um ser humano que em determinado momento pudesse assumir funções híbridas. Deus não criou um homem com possibilidades sexuais de desempenhar o papel da mulher no ato sexual, e vice-versa. Ocorre que a natureza pecaminosa em função da queda no Éden coloca o homem em rebeldia contra Deus. Pela influência do diabo, o homem continua se rebelando contra o Criador e Sua palavra. A homossexualidade surgiu em decorrência dessa rebeldia. Se o homem assume postura própria de mulher; se a mulher assume funções próprias do homem no ato sexual, caracteriza-se um comportamento contrário à vontade do Criador. Deus nos criou para uma relação heterossexual. Dizer que quem nasce gay morre gay; quem nasce lésbica morre lésbica; que se trata de uma opção sexual válida; que o homossexualismo é uma opção dentre outras; que tudo é permitido desde que satisfaça as partes envolvidas; que não existe pecado; que tudo é válido quando existe amor; que o homossexualismo é genético e por isso irreversível; que a única saída para os pais é aceitar a opção sexual de seus filhos, e tantos outros argumentos semelhantes, são vozes de pessoas que desconhecem o poder e a palavra de Deus. Convém dizer que o diabo deseja destruir o homem, física e espiritualmente, porque o homem é a obra-prima de Deus. Os que estão no homossexualismo têm chance de reverterem o quadro: devem se arrepender e aceitar o senhorio de Jesus, que veio para destruir as obras do diabo, libertar os cativos, aliviar os oprimidos. “SE O FILHO VOS LIBERTAR VERDADEIRAMENTE SEREIS LIVRES” (Lucas 4.18; João 8.36), livres da prostituição, das impurezas, do pecado. O homossexualismo é reversível e quem reverte essa situação é o Senhor Jesus. Ouçamos a voz de Deus:
“Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; é abominação” (Levítico 18.22; 20.13).
“Sabendo que a lei não é feita para o justo, mas para os injustos... para os fornicadores, para os SODOMITAS... (o realce é meu). (1 Timóteo 1.10)”.
"Pelo que Deus os entregou aos desejos de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si...pelo que Deus os abandonou às paixões infames. Até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. Semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, inflamaram-se em sua sensualidade uns para com os outros, HOMEM COM HOMEM, cometendo torpeza, e recebendo em si mesmos a penalidade devida ao seu erro... estão cheios de toda iniqüidade, prostituição, malícia, avareza, maldade, inveja, homicídio, contenda, engano e malignidade. Embora tenham conhecimento da justiça de Deus (que SÃO DIGNOS DE MORTE OS QUE TAIS COISAS PRATICAM), não somente as fazem, mas também aprovam os que as praticam" (Romanos 1.24-32).
"Não erreis: nem impuros... nem adúlteros, nem EFEMINADOS, nem SODOMITAS herdarão o reino de Deus" (1 Coríntios 6.9-10). Nota: Sodomita, o que pratica a sodomia: cópula anal, entre homem e mulher ou entre homossexuais masculinos.
“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma” (1 Coríntios 6.12).
“O corpo não é para prostituição, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo” (1 Coríntios 6.13b)

10 - OS FILHOS PAGAM PELA MALDADE DOS PAIS?

Os filhos devem pagar pelos pecados dos pais? (Isaias 14:21) "Preparai a matança para os filhos por causa da maldade de seus pais, para que não se levantem e possuam a terra... (Êxodo 20:5) Pois eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração. (Êxodo 34:7) Ao culpado não tem por inocente; castiga a iniqüidade dos pais sobre os filhos dos filhos até a terceira e quarta geração.(1Crônicas15:22) Pois assim como todos morreram em Adão...(Deuteronômio 5:9) Pois eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração".
Os filhos não pagam pelos pecados dos pais?(Ezequiel 18:20) "O filho não levará a maldade do pai, nem o pai levará a maldade do filho. (Deuteronômio 24:16) Os pais não serão mortos pela culpa dos filhos, nem os filhos pela culpa dos pais; cada qual morrerá pelo seu pecado".
RESPOSTA:
A resposta está na própria Bíblia, como acima: CADA UM PAGARÁ PELO QUE DEVE. Um não paga pelo outro. O único que pagou por nós foi Jesus. Não existe contradição. A Bíblia complementa e explica o enunciado de Êxodo 20.5, em Ezequiel 18.20 e Deuteronômio 24.16. Moisés fala da CONSEQÜÊNCIA dos pecados dos pais nos filhos (Êxodo 20.5). Dada a possibilidade real de os filhos seguirem os passos dos pais, serão eles também punidos. Deus não castiga o inocente. Os filhos serão castigados se de alguma forma, induzidos ou não, pecarem junto com seus pais. Todavia, a culpa destes não é transferida àqueles. Quanto ao julgamento de Deus, devemos ficar tranqüilos porque o Justo Juiz julgará com justiça. Com relação a 1 Coríntios 15.22 e Romanos 5.12 todos os homens pecaram em Adão devemos entender que semente gera semente da mesma espécie . Somos da espécie de Adão, da semente de Adão, originários do primeiro ato sexual do primeiro casal. Adão é o cabeça da raça humana. Logo, herdamos a sua natureza pecaminosa, assim como um filho herda traços físicos e até morais de seus pais. Não somos, portanto, completamente distintos de Adão e Eva. E quem é mais sábio do que Deus? Se Ele diz que pecamos em Adão é porque  pecamos. Mas Deus oferece a condição de sairmos desse laço: ao aceitarmos a Jesus como nosso Senhor e Salvador, somos capacitados a vencermos a inclinação para o mal. O livre-arbítrio do homem dá-lhe condições de optar por continuar com sua moral abalada, ligada umbilicalmente a Adão, ou por cortar os laços do velho homem e receber Novo Nascimento em Cristo Jesus.

 

DOUTRINA IV — GRAÇA

MÓDULO 07-A

 

SUMÁRIO


 

Introdução

Capítulo I — A Natureza da Graça
Capítulo II — A Graça no Antigo
Capítulo III — A Graça no Novo Testamento
Capítulo IV — A Graça e o Plano da Salvação
Capítulo V — A Graça e o Conhecimento
Capítulo VI — A Graça Resistível
Capítulo VII — A Graça Comum de Deus no Refreamento do mal
Capítulo VIII — Lei e Graça: Uma Visão Reformada
Conclusão

INTRODUÇÃO

Como muitos outros termos familiares da teologia, a palavra “graça” encerra uma variedade considerável de conotações e nuanças. Costuma envolver outros assuntos correlatos tais como o perdão, a salvação, a regeneração, o arrependimento e o amor de Deus. O conceito de graça, porém, é todo abrangente. É como disse Moffat, “a religião da Bíblia ou é uma religião da graça ou nada é. Não havendo graça, não há evangelho.

Estudaremos neste módulo alguns aspectos fundamentais da graça de Deus sob diversos prismas. É importante, porém, não esquecer que a operação da graça de Deus é um mistério profundo, muito além da nossa compreensão humana limitada

Capítulo I

A NATUREZA DA GRAÇA


Definição

Graça, em seu sentido comum, é mercê, favor ou benevolência. Teologicamente, é o dom sobrenatural concedido por Deus como meio de salvação. É misericórdia imerecida, livremente concedida ao homem por Deus.

Tipos de Graça.

Ao se debater o assunto da graça, deve-se manter uma distinção importante entre graça comum (geral, universal) e graça especial (salvífica, regeneradora), a fim de se compreender corretamente o relacionamento entre a graça divina e a situação humana.

Graça Comum. A graça comum ou geral ou universal é assim chamada porque toda a humanidade a recebe em comum. Seus benefícios são usufruídos pela totalidade da raça humana, sem distinção entre uma pessoa e outra. A graça comum é vista basicamente em três aspectos: (1) provisão graciosa de Deus nas coisas naturais, tais como seqüência das estações, semeadura e colheita (Mat. 5:45); (2) governo ou controle divino da sociedade humana como poder restrito do mal (Rom. 13:1ss); (3) a consciência interna no homem entre o certo e o errado, entre a falsidade e a verdade, entre a justiça e a injustiça.

Graça Especial. A graça especial é a graça pela qual Deus justifica, santifica e glorifica o Seu povo. Ao contrário da graça comum, que é dada universalmente, a graça especial é outorgada somente àqueles que Deus elege à vida eterna, mediante a fé em Seu Filho, nosso Salvador Jesus Cristo (2 Cor. 5:18). A graça regeneradora de Deus é dinâmica — não somente salva como também transforma e revitaliza aqueles cuja vida anteriormente estava destruída e sem significado (1 Cor. 15:10).

Meios de Graça

Chamam-se meios de graça as vias pelas quais a graça pode ser recebida. O principal meio é o das Escrituras Sagradas, “de onde deriva a totalidade do nosso conhecimento da fé cristã e cujo propósito principal é nos comunicar a graça salvífica do evangelho de Jesus Cristo (2 Tim. 3:15; João 20:31). A pregação, que é a proclamação da dinâmica do evangelho, é, conforme demonstram o ensino e a prática do próprio Cristo e dos apóstolos, um meio de graça de máxima importância (Luc. 24:47; Atos 1:8; Rom. 1:16; 10:11-15; 1 Cor. 1:17-18, 23). Semelhantemente, o testemunho pessoal e a evangelização são meios de levar aos outros a graça do evangelho.
“ Se os itens mencionados acima são essencialmente meios de graça salvífica, também há meios de graça para a perseverança e o fortalecimento. A exposição das Sagradas Escrituras para a instrução e edificação dos crentes cristãos é um destes meios, como também o é o estudo particular da Bíblia. Outro meio é a oração, mediante a qual o cristão tem comunhão com Deus, experimenta Sua presença e abre-se a Seu propósito e poder. Outro meio é o convívio fraternal  com os cristãos na adoração e no testemunho. E também deve-se acrescentar o sacramento [ordenança] do partir do pão, que Cristo instituiu e ordenou aos Seus seguidores que o observassem (Atos 2:42).” [1]

Capítulo II
A GRAÇA NO ANTIGO TESTAMENTO

Vocabulário Hebraico
As duas palavras hebraicas usadas no Antigo Testamento para graça são hesed e hen.
(1) Hesed é usada cerca de 250  vezes no Antigo Testamento e traduzida principalmente como “misericórdia” e dezenas de vezes como “bondade”, “longanimidade” etc. Significa amor leal, firme e fiel, e enfatiza a posse mútua de duas pessoas envolvidas num relacionamento de amor. Lutero a traduziu por Gnade, a palavra alemã para “graça”. Apesar disso, hesed não é exatamente o equivalente de graça, mas uma palavra de duas facetas: tanto pode ser empregada com relação a Deus quanto com relação ao homem. Quando empregada com relação a Deus significa realmente graça (Lam. 3:22). Quando empregada, porém, com relação ao homem (Osé. 6:6), deixa subentendido um amor constante por outros ser humano ou por Deus. Hesed aparece quase sempre associada com a palavra “aliança” e denota a atitude de fidelidade com que ambas as partes de um pacto devem caracterizar-se. Snaith sugere a tradução “amor pactual” como o equivalente mais aproximado nas línguas modernas.

(2) Hen não é uma palavra relacionada a alianças nem apresenta duas acepções. “Derivado de uma raiz que significa ‘curvar-se, abaixar-se’; indica favor imerecido ou condescendência de um superior em favor de alguém inferior em posição ou valor. Às vezes é usado redentivamente (Jer. 31:2; Zac. 12:10).”[2] É utilizada para significar um favorecimento de um superior, humano ou divino, para com um inferior, geralmente um ato de clemência. A idéia é de um favor imerecido e é traduzida por “graça” ou “favor” algumas dezenas de vezes. Encontramos exemplos de hen humano em Gên. 33:8, 10, 15; 39:4; Rute 2:2, 10. O hen de Deus acha-se em Jer. 31:2. Ninguém pode mostrar hen para com Deus (mas sim hesed), pois ninguém pode fazer-Lhe um favor.[3]

A Graça no Pentateuco

Aparentemente antagônica da graça, é a lei no Pentateuco. Mas é somente aparência. No Antigo Testamento a comunhão, a libertação, a capacitação, a iluminação, a direção, o perdão, a esperança, o louvor e a preservação estavam todos baseados na hesed de Deus. A graça existiu antes de Cristo, no Antigo Testamento. É bem verdade que não estava em primeiro plano e aparentemente se limitava somente a Israel, mas a graça é anterior à outorga da lei. Deus tratou com os patriarcas graciosamente. Na própria lei pode-se encontrar a graça. A escolha de Israel como povo eleito, por exemplo, é atribuída à livre escolha de Deus, e não à retidão de Israel (Deut. 7:7-8; cf. 8:18).


A Graça nos Profetas

O principal ponto de interesse nos escritos proféticos é o arrependimento. As passagens típicas alusivas a isto são Amós 5:14 Embora pareça que os profetas punham a ênfase no poder da vontade humana para o arrependimento, à semelhança da heresia pelagiana, a verdade é que o arrependimento era reputado como algo interno (Joel 2:13). Ezequiel, por exemplo, apesar de exigir que a pessoa deva criar um novo coração (Eze. 18:31), também admite que um novo coração só pode ser obtido como dom da graça de Deus (36:26). O profeta Jeremias também é do mesmo parecer (Jer. 31:31-34).

A Graça nos Escritos

O termo hen acha-se quase que inteiramente ausente dos salmos, embora seus cognatos apareçam. Já hesed pode ser encontrado com grande freqüência (Sal. 5:7; 23:6 (traduzido “misericórdia”); 53:3 (“auxílio”); 52:1 (“bondade” e “misericórdia” no verso 8); 89:33 (“bondade”).


Capítulo III
A GRAÇA NO NOVO TESTAMENTO

“Embora s graça fosse manifesta no Antigo Testamento (Gên. 6:8; Êxo. 34:6; Jer. 31:3), era apenas como uma vela, comparada ao brilho da graça manifesta na encarnação de Cristo (Tito 2:11). Graça é o favor imerecido de Deus e fornece a base de nossa salvação, justificação, eleição, fé e dons espirituais (Efés. 1:7; Rom. 3:24; 11:5-6; Efés. 2:8-9; Rom. 12:6).”[4]

Vocabulário Grego

O termo grego normalmente usado para traduzir o vocábulo hebraico hen é charis. O verbo correspondente mais aproximado, charizesthai, era empregado para denotar tanto o perdão humano  como o divino (Col. 2:13; 3:13; Efés. 4:32). O termo hebraico hesed tem seu equivalente no grego eleos, que tem o sentido de “misericórdia”. Esta palavra, porém, não é freqüente e ocorre principalmente em passagens fundamentadas no Antigo Testamento, tais como Rom. 9:15-18, 23; 11:30-32). No entanto, “graça” é tradução preferível à “misericórdia”, visto incluir o conceito de poder divino que capacita o homem a viver vida moral.

A Graça nos Evangelhos Sinópticos

Embora a palavra charis nunca tenha sido posta nos lábios de Jesus pelos evangelistas, a idéia teológica é bastante proeminente. Jesus afirma ter vindo buscar e salvar os perdidos. Muitas de suas parábolas ensinam a doutrina da graça: a dos trabalhadores na vinha ensina que Deus não tem de prestar contas a ninguém por Seus dons graciosos (Mat. 20:1-16), a da grande ceia mostra que o privilégio espiritual não garante a felicidade final e que o convite do Evangelho é para todos (Luc. 14:16-24), a do filho pródigo apresenta o pai recebendo o filho de uma maneira que ela não merecia (Luc. 15:20-24). Ademais, o arrependimento é sublinhado como condição de salvação (Mar. 1:15; 6:12; Luc. 24:27).

A Graça e os Escritos de Lucas

Tanto o Evangelho de Lucas como Atos dos Apóstolos necessitam de atenção especial. Lucas demonstra flexibilidade ao tratar do assunto. Aparece até mesmo o sentido não religioso do substantivo como o favor feito de um homem para outro (Atos 24:27; 25:3 e 9). O sentido véterotestamentário de favor é visto em Luc. 1:30; 2:52; Atos 2:47; 7:10, 46. O sentido dinâmico da graça, cujo resultado é o testemunho eficaz e corajoso, é percebido em Atos 4:33; 11:23; 13:43 e é usado no contexto do apelo universal do evangelho. Lucas também combina, de maneira insólita, os termos “evangelho”  e “graça” (Luc. 4:22; Atos 14:3; 20:24).

A Graça e as Epístolas Paulinas

O termo “graça” encontra lugar de destaque nas saudações iniciais e nas bênçãos finais das epístolas de Paulo, fazendo dobradinha com a saudação convencional da época — “paz”. O fundamento da doutrina da graça em Paulo encontra-se em Rom. 1:16–3:20. O ser humano é apresentado como um pecador, que é justificado pela graça de Deus mediante a fé (Rom. 3:21–4:25). Ou seja, Deus, em Sua graça, trata o homem culpado como se nunca tivesse pecado.
A fé é a resposta humana à graça divina (Rom. 5:2; 10:9; Efés. 2:8). Poderíamos dizer que a graça é a mão divina estendida e a fé é a mão humana que se apressa em encontrá-la. Essa fé, no entanto, é também dádiva de Deus (Efés. 2:8). Paulo deixa claro que a fé não é alguma ação independente do crente. Também não é algo destituído de atitude ética. A verdadeira fé “atua pelo amor” (Gál. 5:6). Sem obras, é uma fé morta.

A Graça e Outros Escritos Neotestamentários
Em 1 Pedro, o apóstolo salienta a graça nos capítulos 1 e 2 por meio dos variantes usuais de eleição e herança; 3:7 apresenta-nos a frase incomum “graça de vida”. Utiliza-se graça igualmente em 5:10 com relação à glória futura do crente.
Em Hebreus, o escritor emprega ambas as palavras gregas para graça. Em 2:9 a graça divina é relacionada aos sofrimentos de Cristo. O termo charis é utilizado em 12:28 para indicar a gratidão humana para com a Divindade. A graça é reputada como uma chamada à consagração em 12L14-15. A frase “trono da graça” (4:16) associa a majestade e a misericórdia divinas. Outra expressão interessante, que aparece em 10:29, é “o Espírito da graça”, dando a entender que o Espírito Santo o promotor da graça.
Nos escritos joaninos pouca coisa se diz sobre a graça, embora a temática do amor seja um tópico recorrente do começo ao fim. A idéia mais aproximada de graça é o conceito de vida eterna obtido pela fé interior na pessoa do Cristo. A glória do Verbo encarnado é apresentado com características de “graça e verdade” (João 1:14).



Capítulo IV
A GRAÇA E O PLANO DA SALVAÇÃO

Todos Pecaram

Gênesis 8:21; I Reis 8:46; II Crônicas 6:36; Salmos 51:5; Provérbios 22:15; 20:9; Eclesiastes 7:20; 8:11; 9:3; Ezequiel 22:29,30; Jeremias 3:17; 4:4,18,22; 5:23; 7:24; 8:3; 17:9; Gênesis 6:5; Romanos 3:23; 5:19; Marcos 7:21; Tiago 1:14; Romanos 11:32; I João 1:10; Romanos 3:10-18.
Não há nenhum ser humano neste universo que não seja pecador. O pecado é hereditário. Os homens não são pecadores porque pecaram, mas pecam porque são pecadores, isto é, já nasceram do pecado: "Eis que em iniquidade fui formado e em pecado me concebeu minha mãe" (Sl.51:5). Como o pecado é hereditário, ele passa a todos os homens, de modo que não há nenhum no mundo que seja santo: "Na verdade, que não há homem justo sobre a terra, que faça bem, e nunca peque" (Ec.7:20). Todo ser humano é pecador!

Todos Estão Condenados

Gênesis 3:19; Ezequiel 18:4; Jeremias 6:16-19; Isaías 59:1-16; Lucas 12:4,5; Colossenses 2:13; João 3:18,36; Romanos 5:12,14,19; 6:23; Gálatas 3:10,11; Hebreus 9:27; Apocalipse 20:14,15; 21:8; Efésios 2:1; 2:5
Uma vez que todos os homens são pecadores, então todos estão condenados diante de Deus, pois o pecado torna o homem condenável. Este fato nenhum homem pode negar, pois a condenação resultante do pecado é a morte: "Porque o salário do pecado é a morte..."(Rm.6:23). Pela morte todos passam; ela comprova que todos são pecadores. Homens considerados santos, que são venerados e adorados; homens considerados deuses, que não puderam salvar a si mesmos da morte. Sobre todos pesa o vaticínio: "Pelo que por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens porque todos pecaram" (Rm.5:12). Todo ser humano está condenado à morte!

Há Um Salvador

Isaías 53:1-7; I Pedro 2:24; 3:18; João 3:16; Romanos 5:8; Atos 4:12; João 14:6; Isaías 43:25; Jeremias 31:34; Isaías 43:11; Lucas 2:11; João 4:42; I João 4:14; Judas 25; Romanos 4:25.
Evangelho significa "boas novas". Depois de tomar consciência de que é pecador e que sobre si pesa a sentença de morte, o ser humano se alegra, pois há uma boa nova para ele. Há um Salvador que pode salvá-lo da morte! É esta a mensagem central do evangelho. A Bíblia prega a morte (ou melhor, a justiça de Deus) apenas para que o homem procure a salvação. Se alguém não souber que está doente não procurará pelo remédio. Só procura por salvação quem sabe que está perdido. Por isso a intenção da Bíblia não é assustar ninguém, mas conduzi-lo ao evangelho da salvação.
Jesus Cristo é o Salvador. Ele morreu para que tivéssemos vida. Ele pagou na cruz por todos os nossos pecados, para que ficássemos livre da condenação da morte. Mas esta oferta não é para todos; vale somente para aqueles que o confessarem somo Salvador e Senhor de suas vidas: "Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus O ressuscitou dos mortos serás salvo". Rom. 10:9. Lembre-se de que um pecador perdido não pode salvar o seu próximo, pois não é capaz de salvar nem a si mesmo. Aqueles que os homens veneram e consideram como deuses não são de fato deuses porque eles também morreram: "Nenhum deles de modo algum pode remir a seu irmão, ou dar a Deus o resgate dele". Sal. 49:7. Por isso a Bíblia anuncia que só Jesus Cristo Salva: "E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos". At. 4:12.



A Salvação É Pela Graça


Salmos 49:7,8; Romanos 3:20; 4:4-8; 10:3; 11:6; Isaías 55:1; Apocalipse 22:17; Efésios 2:8,9; Romanos 6:23; Isaías 59:6; 64:6; Atos 17:4,17; Tiago 2:10; Isaías 40:2; João 6:29; Tito 3:5-7; II Timóteo 1:9; Ezequiel 33:12,13; Jeremias 13:23; Gálatas 2:16; 3:11.
As Escrituras são claras em afirmar que a salvação é um dom gratuito de Deus. É um presente. Não se pode obtê-la pelo esforço próprio. As melhores obras que fazemos, podem agradar ao próximo, e até mesmo a Deus, em certo sentido, mas são insuficientes para promover a salvação. Nossas obras de justiça são consideradas trapo de imundície: "Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós caímos como folha, e as nossas culpas como um vento nos arrebatam". Is.64:6.
O batismo não salva, a guarda do sábado não salva, freqüentar igreja não salva, ler a Bíblia não salva, fazer caridade não salva, ser bonzinho não salva, ir à missa não salva, ser católico não salva, ser protestante não salva, ser batista não salva, ser adventista não salva, ser budista não salva, ser pastor não salva, ser padre não salva, ser monge não salva. Nada salva, exceto Jesus Cristo! só Jesus Cristo salva! e não é pelas obras, mas pela graça de deus, porque a salvação é um presente que o Deus vivo Jesus Cristo nos dá: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus. Não vem de obras, para que ninguém se glorie" (Ef.2:8,9). “... o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor" (Rm.6:23). Ou a recebemos humildemente, ou a recusamos e tentamos obtê-la por nós mesmos, infrutiferamente pelas obras. Se agirmos assim ofendemos a Deus, pois consideraremos sua obra incompleta e ineficiente e tentamos dar uma mãozinha a Deus, com nossos esforços. O plano de Deus é tão perfeito que até o mais miserável dos pecadores tem a chance de se salvar, apenas crendo e aceitando o presente de Deus, ao passo que se fosse pelas obras, apenas os bons se salvariam. Mas Jesus veio buscar pecadores, pois os sãos não precisam de médico. Mas todos aqueles que se reconhecem doentes espirituais hão de receber o médico de suas almas: "...todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; aos que crêem no seu nome"(Jo.1:12). Você precisa receber a Jesus!

A Salvação É Mediante A Fé

Marcos 16:16; João 1;12; 3:16,18,36; 5:24; 6:35; 7:38,39; 11:25,26; Atos 10:43; 13:39; 15:9; 16:31; Atos 8:37; 26:18; Tiago 2:19; João 14:1; Romanos 10:8-10; 10:4; Romanos 5:1; Efésios 2:8; Hebreus 11:6.
A graça de Deus é a causa da salvação e a fé é o meio. Quando alguém troca o pneu de um carro, não dizemos que foi o macaco quem trocou o pneu, mas o dono do carro. O macaco foi o instrumento usado para fazer a troca. Desse modo o macaco foi o meio para trocar o pneu, mas a causa foi o homem que efetuou a troca. Embora se possa falar filosoficamente em outras causas, como o pneu furado, por exemplo, mas devemos entender que estamos falando da causa primária e não da causa imediata. É claro que vários fatores ocasionam a salvação, como o próprio fato de estarmos perdidos, ou o fato de ouvirmos a mensagem do evangelho, mas tudo isto são causas imediatas, e por assim dizer, tornam-se meios. A causa primária é o próprio Deus, a sua graça, a sua vontade de salvar, o seu desejo e amor pela humanidade!
Em certo sentido podemos dizer que a graça é a parte de Deus e a fé é a parte do homem (embora a fé também seja um dom de Deus). Deus oferece gratuitamente a salvação, mas o homem tem a responsabilidade de acreditar, confiar e recebê-la. Você precisa crer em Jesus e em sua palavra!

Como Se Consegue

Atos 2:21; Lucas 11:9-13; Jeremias 29:12,13; 33:3; Mateus 11:28; João 6:37.
Se você entendeu a mensagem, e deseja de fato e de verdade a salvação, então basta pedi-la a Deus. Lembre-se que é um presente, que Ele está disposto a dar a todos que lhe pedirem. Se pedirmos então cremos que não podemos comprar e que necessitamos daquilo que pedimos. Mas se pedimos nos humilhamos perante Deus e Ele atende aos humildes. Se ele não quisesse dar não teria enviado Jesus para morrer pelos pecadores: “... o que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora"(Jo.6:37). Jesus disse: "Vinde a Mim todos os que estais cansados..." (Mt.11:28). "O Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida" (Apoc. 22:17). "Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis..." (Luc. 11:9). "Ó vós todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço..." (Is.55:1). Você precisa pedir a Deus pela salvação!

 
Capítulo V

A GRAÇA E O CONHECIMENTO


"Antes crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A Ele seja dada a glória, assim agora, como até o dia da eternidade". (2Pe 3.18)
O cristão é um ser humano em desenvolvimento. Alguém usava uma camiseta onde estava escrito: "Tenha paciência porque ainda estou em construção".
É verdade. Estamos em construção. O crente em nosso Senhor Jesus Cristo tem que agradecer diariamente a graça de Deus e de Seu Filho, e ir penetrando mais e mais além do véu do santuário.
Sim. A graça e o conhecimento têm como sua fonte a pessoa de Cristo Jesus. Pedro, o apóstolo, nos adverte a crescer "na graça e no conhecimento" do Senhor, e o faz no mesmo espírito que levou Paulo a dizer "seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo" e "o Senhor vos faça crescer e abundar em amor uns para com os outros e para com todos."
A experiência da santificação está relacionada ao crescimento cristão, e é, mesmo, um desafio ao crescimento na sabedoria, no conhecimento, na experiência e na graça.

A Graça

A graça de Deus, Seu amor que não merecemos, faz-nos o que somos. Ela é Deus em operação no nosso ser. É impressionante que todas as religiões começam com o ser humano buscando seu(s) deus(es). Assim no animismo, no candomblé, no hinduismo, etc. Mas o evangelho de Cristo começa com Deus buscando a pessoa humana. Só temos que examinar o testemunho da Sua Palavra:
"Nisto se manifesta o amor de Deus para conosco: em que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, par que por meio dele vivamos. Nisto está o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou a nós, e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro".
A graça de Deus escolheu os patriarcas: Noé, Abraão, Jacó, José, Moisés. Escolheu os profetas: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, Amós (7.14,15). Jesus Cristo escolheu os apóstolos (Mt 10.10; Mc 3.13; Lc 6.13; 9.1; 2Co 12.9); escolheu os seus santos (Rm 1.7; 1Co 1.2: Ef 1.1,2). A Bíblia é a história da graça de Deus, e Deus Pai é o Deus de toda graça (1Pe 5.10), como o Espírito Santo é o Espírito da graça (Zc 12.10), e Jesus Cristo é a Palavra de Deus cheia de "graça e de verdade"(Jo 1,14).
Mas a graça de Jesus Cristo, na qual somos encorajados a crescer, não é uma graça barata, graça de liquidação. Não é a pregação do perdão sem arrependimento, do batismo sem discipulado, da comunhão sem confissão. Porque graça barata é a graça sem cruz, que dispensa o Calvário e sem Jesus Cristo ressuscitado!
Não! Pela graça há uma nova relação com Deus, uma nova obediência. E afirmar Efésios 2.8 ("Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus) é sinônimo de confiança no valor da obra salvadora de Deus.
A graça se reflete em três aspectos: a já mencionada salvação pela graça, a segurança por meio da graça e a graça como regra de conduta. A graça salvadora é mais que simples amor porque é amor que liberta, que torna o salvo triunfante sobre o juízo final (leia Jo 3.18); é o amor sem limites e livre de Deus pelo perdido. A segurança pela graça significa que Deus guarda os seus (leia Jo 10.27-29; Rm 8.35-39; Jo 6.37,39). Como regra de vida significa que devemos crescer nela pela transformação segundo a imagem de Cristo, o que é produzido em nós pelo poder do Espírito Santo (leia 2Co 3.18). E então surge em nossa vida um novo senso de responsabilidade por nossas atitudes, de propriedade por nossas ações, de alegria por estar vivo e ativo no reino de Deus; novo sentido de esperança para o futuro, e, por isso, celebramos a graça, maravilhosa graça, abundante graça, extraordinária graça que nos dá salvação, vida e alegria!

O Conhecimento

O "conhecimento de Cristo" pode ser uma de duas coisas, ou as duas; um conhecimento acerca de Jesus Cristo (cf. 2Pe 1.5,6), ou/e um conhecimento pessoal de Cristo, um encontro com Ele como Salvador pessoal, um contato constante com Ele.
Então, qual o Cristo que você conhece? O Cristo morto da teologia popular brasileira? Mostrando a uns amigos americanos um templo antigo da Igreja Majoritária, ao lado do espanto, misto de admiração pelos painéis folheados a ouro, altares rebuscados, tive um repentino susto ao ver debaixo de um dos altares um cadáver num caixão. Olhando melhor, observei que era uma imagem em tamanho natural representando o Cristo defunto tão ao gosto de certa forma de religiosidade. São expressões de um folheto de cordel:

Qual o Cristo que você conhece? O Cristo distante? O Cristo do Corcovado, dos Altos do Cruzeiro (praticamente toda cidade do interior, e algumas capitais como Salvador, Rio de Janeiro, Recife têm um morro para onde se vai em romaria, subindo, por vezes, de joelho a escadaria numa autêntica demonstração de "salvação pelas obras").
 O Cristo metafísico, longe de nós?
Qual o Cristo que você conhece? O Cristo que não inspira respeito? Das músicas profanas e piadas pretensamente jocosas?
Qual o Cristo que você conhece?
O Cristo do cético, pálido, ausente da vida diária; cuja natureza humana e deformada, ou substituída por um orixá?
Qual o Cristo que você conhece?
O Cristo Oxalá, filho unigênito do Pai Omolum?
O Cristo Senhor de Maitrea do movimento "Nova Era"?
O Cristo só homem? Grande filósofo? Grande mestre? Volto a lhe perguntar,  qual o Cristo que você conhece? O Cristo sem poder, inerte, que nega a palavra profética de que o Espírito do Senhor está sobre Ele, e O ungiu para anunciar boas novas, proclamar libertação, restauração, por um fim à opressão, e proclamar o ano das bênçãos, da graça, o ano aceitável do Senhor (cf. Lc 4.17-21; Is 61.1ss)?
Qual o Cristo que você conhece? O Cristo existencialista de Bultmann? O Cristo revolucionário, parazelote, de Cullmann, dos teólogos da libertação, das categorias políticas? Ou o Cristo servo-sofredor dos profetas, o Cristo da esperança de todo o Novo Testamento? Num dos seus iluminados livros, o Pr. A. W. Tozer ensina que há graus de conhecimento das realidades divinas. E, fazendo um paralelo com o templo de Jerusalém, explica dizendo que o primeiro deles é o grau da razão que se refere ao pátio do templo, ao ar livre e recebendo a luz natural. Verdade é que tudo era divino, mas a qualidade do conhecimento se tornava mais sublime à medida que o adorador deixava o átrio, a parte de fora do templo, e ia se aproximando do Santo dos Santos onde estava a arca. O segundo grau é o da fé correspondendo ao lugar Santo. É aquele que penetra na fé da criação divina do Universo, crê na Trindade Divina, crê que Deus é amor, e que Jesus Cristo morreu por nós, ressuscitou, e está ao lado do Pai. O mais elevado é o da experiência espiritual: é o Santo dos Santos, o conhecimento mais puro. Em João 14.21, Jesus disse: "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele."
E Paulo fala de sua experiência no Espírito com as seguintes expressões: "É necessário gloriar-me, embora não convenha; mas passarei a visões e revelações do Senhor. Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo não sei, se fora do corpo não sei; Deus o sabe) foi arrebatado até o terceiro céu. Sim, conheço o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei: Deus o sabe), que foi arrebatado ao paraíso, e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir." (2Co 12.1-4)
Essa é a bem-aventurança maior: entrar pelo véu rasgado no lugar Santíssimo. “Tendo pois, irmãos, ousadia para entrarmos no santíssimo lugar, pelo sangue de Jesus, pelo caminho que Ele nos inaugurou, caminho novo e vivo, através do véu, isto é, da sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado de má consciência, e o corpo lavado com água limpa, retenhamos inabalável a confissão da nossa esperança, porque fiel é aquele que fez a promessa." (Hb 10.19-23).

O Crescimento

O alvo do crente em Jesus Cristo é crescer. Crescer na graça (2Pe 3.18), crescer no conhecimento (Cl 1.10), crescer na fé (1Ts 1.3), crescer na sabedoria (Pv 1.5), crescer em tudo (Ef 4.15).
Em Êxodo 33.13. Moisés faz um pedido ousado a Deus: "rogo-te que agora me mostres os teus caminhos, para que eu te conheça". O Senhor, então, assegura que irá com ele (cf. V. 14). No verso 18, ele faz um pedido ainda mais ousado "Rogo-te que me mostres a tua glória". E, com isso, Moisés nos ensina que não podemos ficar com menos.
Crescer como cristão, na fé, na graça e no conhecimento é uma construção do Espírito de Deus. É o Espírito Santo o grande operário de Deus em nosso próprio espírito.
Ora, as pessoas sensíveis à vida espiritual desejam ser mudadas para melhor. Pois o evangelho tem uma proposta radical: é preciso morrer! Morrer para o passado e nascer para uma nova vida: "Porque morreste, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus": (Cl 3.3; cf. Rm 6.2,7ss; Cl 2.13; 1Co 15.31,36; Ef 4.24).
Então, virão os sinais de crescimento: a paz, a alegria, a esperança, a segurança, a gratidão, o serviço (cf. Rm 14.17; Jo 14.27; Rm 5.5; 1Pe 1.3; 1Jo 5.12,13; Lc 24.53; Rm 12.1).
Por que crescer espiritualmente? Porque nosso Deus o espera. Pelo Espírito, entramos na nova vida em Cristo; pelo Espírito, vemos em Jesus a revelação de Deus, e então nos entregamos a Ele, e Seu Espírito toma conta de nós e faz a obra, "porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rm 5.5). É preciso crescer espiritualmente porque nossa utilidade no reino de Deus o exige, decorrendo daí um interesse profundo na Causa de Cristo, e a participação ativa no reino. É preciso crescer espiritualmente para evitar a advertência de Paulo em 1Tm 1.5-7.
No entanto, se alguma dificuldade há, ponha-a diante de Deus em oração, e faça certas perguntas: quem ordena crescer? Não é o pastor, mas o próprio Deus. Em quem devo crer? Em Jesus Cristo. Mas não pergunte, "como posso crer?" Pois diante de tantas graças, bênçãos e maravilhas, pergunte "Como poderia deixar de crer?" E, então, submeta-se!
Pedro termina a carta como a começara (cf. 1.2), e como a vida cristã é vida de desenvolvimento, crescimento e rumo à maturidade, ao lado da ordem de Pedro está o encorajamento de Paulo,
"... esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus" (Fl 3.13,14), não esquecendo o profeta Oséias: "Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor..." (6. 3). Amém.[5]




Capítulo VI
A GRAÇA RESISTÍVEL

O título deste estudo poderia ser: Uma vez salvo, salvo para sempre? Ou: Se o crente cometer apostasia perderá a salvação? Sei tratar-se de um assunto controvertido. De um lado, os que seguindo a doutrina do Calvinismo consideram a salvação imperdível. Do outro, os que alinhados ao ensino do Arminianismo consideram plenamente possível o cair da graça. Para melhor compreensão, vejamos um resumo dessas doutrinas.

Calvinismo

O calvinismo é um sistema teológico elaborado pelo teólogo francês João Calvino (1509-1564). Os pontos fundamentais do seu ensino são:
(1)  Depravação total: Os homens nascem depravados, não lhes sendo possível, nesse estado, escolher o caminho da salvação.
(2)  Eleição incondicional - Somos escolhidos por Deus para salvação, independente de qualquer mérito de nossa parte.
(3)  Graça irresistível - Os escolhidos não resistirão à graça salvadora do Criador, em razão da atuação do Espírito Santo, convencendo-os do pecado.
(4)  Expiação limitada aos eleitos - O alto preço do resgate, pago por Jesus na cruz, alcançou apenas os eleitos.
(5)  Perseverança dos crentes - Nenhum dos eleitos perderá a salvação; irão perseverar até o fim, pois estão predestinados ao céu desde a fundação do mundo. Em resumo, o movimento teológico calvinista defende a absoluta soberania de Deus, e a exclusão do livre-arbítrio. Deus concede aos eleitos graça eficaz e irresistível, que permite ao homem continuar perseverante por toda a vida.

Arminianismo

O Arminianismo é um sistema teológico formulado pelo teólogo holandês Jacobus Arminius (1560-1609), em oposição à doutrina Calvinista da predestinação, assim exposto:

(1)  Livre-arbítrio - Deus concedeu ao homem a capacidade de aceitar ou recusar a salvação que lhe é oferecida.

(2)  Eleição condicional - Deus elege ou reprova com base na fé ou na incredulidade em Jesus Cristo.

(3)  Expiação ilimitada - Cristo morreu por todos, e não somente pelos eleitos.

(4)  Graça resistível - É possível ao homem rejeitar a Graça de Deus e, em conseqüência, perder a salvação.

(5)  Decair da Graça - Os salvos podem perder a salvação se não perseverarem até o fim.

Os defensores da graça irresistível, ou seja, os que tomam partido no Calvinismo, não admitindo a perda da salvação dos "eleitos" em nenhuma hipótese, apresentam, dentre outros, os seguintes argumentos bíblicos:
"Eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; ninguém poderá arrebatá-las da minha mão" (Jo 10.28).
"Quem nos separará do amor de Cristo?..." (Rm 8.35).
"Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar..."(Jd 24).
"E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção" (Ef 4.30)
"Portanto, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram tudo se fez novo" (2 Co 5.17).
"Pois [Jesus Cristo] nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele. Em amor nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo..." (Ef 1.4-5).
"Porque os que dantes conheceu, também os predestinou ...aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou"(Rm 8.29-30).
Outras referências associadas à eleição e predestinação: Jr 1.5;10.23; Sl 65.4; Jo 6.44; 9.23; 10.13; Ef 1.11-12; 2.10; 2 Tm 1.9; 2 Ts 2.13. 1 Jo 2.18-19.
Os que admitem a perda da salvação do crente, em caso de abandono da fé, apresentam, dentre outros, os seguintes argumentos bíblicos:
"Se voluntariamente continuarmos no pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas certa expectação horrível de juízo e ardor de fogo que há de devorar os adversários" (Hb 10.26-27).
"Meus irmãos, se algum dentre vós se desviar da verdade, e alguém o converter, sabei que aquele que fizer converter um pecador do erro do seu caminho salvará da morte uma alma..." (Tg 5.19-20).
"Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, como o ramo, e secará; tais ramos são apanhados, lançados no fogo e se queimam" (Jo 15.6).
"Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios" (1 Tm 4.1).
"Agora, contudo, vos reconciliou no corpo de sua carne...se é que permaneceis fundados e firmes na fé..."(Cl 1.22-230).
"Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? ..." (Hb 2.1-3).

Livre-Arbítrio

Deus criou o homem com liberdade para tomar decisões, com liberdade para rejeitar ou aceitar Seu plano de salvação, para crer ou não crer nEle. Essa liberdade faz parte da condição humana. Caso contrário, seríamos como marionetes, ou robôs programados pelo Criador. Não seríamos culpados por nossos atos.
Adão e Eva tiveram a liberdade de decidir; influenciados pelo diabo, optaram pela desobediência ao Criador. Antes disso, Lúcifer, um anjo de grande prestígio no céu, também usou de seu livre-arbítrio, desejou ser igual ao Altíssimo e caiu em rebelião.
Em Deuteronômio 28, Deus coloca diante do seu povo dois caminhos: (a) "Se obedeceres à voz do Senhor teu Deus...todas as bênçãos virão sobre ti..." (b) "Mas se não deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus...virão sobre ti todas estas maldições...". Noutras palavras, Deus concede ao seu povo a liberdade de escolha.
Jesus nos deixou outro exemplo dessa liberdade. Em Mateus 7, Ele afirma que diante dos pecadores existem dois caminhos: um deles é espaçoso e conduz à perdição; o outro, estreito, conduz à vida eterna. Disse mais que são poucos os que percorrem o caminho apertado. Ora, se não prevalecesse a vontade humana, todos os homens seguiriam o caminho estreito, porque é da vontade de Deus que todos se salvem.
O cerne da questão está na condição do homem após aceitar Jesus como seu Senhor e único Salvador. O crente, usando o seu livre-arbítrio, pode voltar-se para o pecado, perder a fé, perder a graça de Deus e, assim, perder a salvação? Mais uma pergunta cabe formular: o crente possui livre-arbítrio? Se a resposta for afirmativa, é evidente que ele poderá usá-lo, e usá-lo para abandonar a sua fé original e fazer morrer a chama do primeiro amor; se negativa, teríamos que solicitar respaldo bíblico para tal opinião.
A partir da decisão do primeiro casal no Éden, as evidências escriturísticas provam que em nenhuma circunstância o ser humano perde o direito à liberdade de escolha dada por Deus. O argumento de que temos o Consolador que nos convence do pecado, e portanto não podemos cair, não me parece suficiente. Vejam: "Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo" (HB 3.12). Só pode haver desenlace quando há enlace; só podemos sair de onde entramos; "apartar-se do Deus vivo" significa quebrar uma aliança existente.

Eleição e Predestinação

No estudo da apostasia pessoal não se pode deixar de comentar a doutrina dos eleitos e predestinados. No Calvinismo, nada impedirá a salvação dos escolhidos. No Arminianismo, a eleição e a reprovação é com base na fé ou incredulidade. Examinemos o seguinte versículo: "Veio [Jesus] para o que era seu, e os seus não O receberam; mas a todos quantos O receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no seu nome"(Jo 1.11-12). Somente seremos adotados como filhos se crermos em Jesus. Logo, os "eleitos" estão sujeitos a esta condição.
Os "eleitos" de Deus são todos os que, após receber a Cristo, perseveram na fé obediente. Por isso, Jesus advertiu aos discípulos: "Aquele que PERSEVERAR até o fim será salvo" (Mt 10.22). Os que mantiverem a fé perseverante estarão predestinados à vida eterna. Logo, os que forem negligentes não terão o mesmo destino.
São eleitos os que estiverem unidos a Cristo: "Quem nEle crê, não é condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não crê no nome do unigênito Filho de Deus" (Jo 3.18). Portanto, o entendimento de uma eleição por meio de um ato unilateral da parte de Deus fica prejudicado. É da vontade de Deus que nenhum homem se perca (Jo 6.39) ou caia da graça (Gl 5.4; 2 Pe 3.9). A expressão "cair da graça" nos diz da possibilidade de alguém perder a salvação.
Se todos os homens são chamados a participarem do plano de salvação (Jo 3.16), não há como acreditarmos que Deus escolhe alguns e, por exclusão, condena os demais. Se estivessem previamente escolhidos, não teria sentido a recomendação para que "todos os homens em todos os lugares se arrependam" (At 17.30), nem a ordem do "Ide por todo o mundo, e pregai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16.15).
O ensino calvinista leva ao entendimento de que Deus, ao eleger seus preferidos, selou por um ato divino o destino dos não eleitos, ou seja, a morte eterna. Os não escolhidos estariam proibidos de crer em Jesus para serem salvos. Não consigo entender - ainda que me esforce - a idéia de que Cristo morreu somente por alguns pecadores. Vejamos: Cristo morreu pelos pecadores (Rm 5.8); Cristo morreu pelos ímpios (Rm 5.6); Cristo morreu para dar salvação aos que nEle crerem (Jo 3.16, 11.26); Cristo veio para dar vida às ovelhas perdidas (Mt 15.24; 18.11).
Como vimos, a eleição para a salvação em Cristo é oferecida a todos (Jo 3.16-17), porque Deus "deseja que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade" (1 Tm 2.4), "pois a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens" (Tt 2.11). Deus não deseja salvar apenas uma parte dos homens, mas TODOS os homens.
Se houvesse a dupla predestinação, ou seja, os escolhidos para o céu, os não escolhidos para a perdição, o inferno não teria sido preparado para o diabo e seus anjos, como diz Mateus 25.41. Este versículo teria outro enunciado: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado desde a fundação do mundo para o diabo e seus anjos, e para todos os não eleitos". Ora, os homens são jogados no lago de fogo e enxofre em conseqüência de uma decisão por eles tomada em vida, a decisão (livre-arbítrio) de não seguir o caminho estreito.
A predestinação e a eleição dizem respeito ao corpo coletivo de Cristo (a verdadeira igreja), e somente alcançam os que tomam parte neste corpo mediante a fé viva em Jesus Cristo (At 2.38-41; 16.31). Como está dito à p. 1890 da Bíblia de Estudos Pentecostal, "no tocante à eleição e predestinação, podemos aplicar a analogia de um grande navio viajando para o céu. Deus escolhe o navio (a igreja) para ser sua própria nau. Cristo é o Capitão e Piloto desse navio. Todos os que desejam estar nesse navio eleito, podem fazê-lo mediante a fé viva em Cristo. Enquanto permanecerem no navio, acompanhando seu Capitão, estarão entre os eleitos. Caso alguém abandone o navio e o seu Capitão, deixará de ser um dos eleitos. A predestinação concerne ao destino do navio e ao que Deus preparou para quem nele permanece. Deus convida todos a entrar a bordo do navio eleito mediante Jesus Cristo". Como veremos a seguir, muitas são as advertências para que ninguém saia do navio; caso alguém não permaneça nele, não chegará ao porto seguro. Vejamos.


A Graça Condicional

A seguir, alguns textos que falam da PERMANÊNCIA na fé como condição sine qua non para não perdermos a coroa da vida.
"Eu sou a videira, vós sois os ramos. Se alguém permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto...Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora..." (Jo 15.5-6).
Comentário: Nessa alegoria Jesus diz da possibilidade de um crente abandonar a fé, deixá-Lo, e perder a salvação.
"A vós também que noutro tempo éreis estranhos agora vos reconciliou no corpo da sua carne...se é que permaneceis fundados e firmes na fé, não vos deixando afastar da esperança do evangelho..." (Cl 1.21-23).
Comentário: Paulo fala aos "santos e irmãos em Cristo. A reconciliação em Cristo depende da permanência na fé.
"Mas o meu justo viverá pela fé. E se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele. Nós, porém, não somos daqueles que retrocedem para a perdição, mas daqueles que crêem para a conservação da alma" (Hb 10.38-39).
Comentário: Em outras palavras: Se o crente ("meu justo") me abandonar, estará perdido. A possibilidade de recuo, de deixar, de abandonar a fé é uma realidade possível. "Daqueles que retrocedem" é uma palavra de exortação, uma injeção de ânimo para que continuem firmes na fé, mas fala também da possibilidade de o crente volta ao primitivo estado.
"E odiados de todos sereis por causa do meu nome. Mas aquele que perseverar até o fim será salvo" (Mt 10.22).
Comentário: A segunda parte poderia ser assim: "Aquele que não perseverar até o fim NÃO será salvo".
A necessidade de fidelidade e vigilância é realçada na parábola das Dez Virgens (Mt 25.1-13), onde Cristo demonstra que boa parte dos crentes não estará preparada na Sua inesperada vinda. Da mesma forma, a parábola do "Servo Vigilante" (Lc 12.35-48) demonstra a imperiosa necessidade de o crente não negligenciar na fé, e manter-se espiritualmente pronto para a volta do Senhor.
"Irmãos, se algum de entre vós se tem desviado da verdade, e alguém o converter, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma e cobrirá uma multidão de pecados" (Tg 5.19-20).
Comentário: A epístola, dentre outros objetivos, destinou-se a encorajar crentes judeus, exortando-os a se manterem na Verdade que lhes foi revelada. Como se vê, Tiago admite ser possível alguém, "dentre os irmãos", abandonar a fé e resistir à graça.
"Os quais, deixando o caminho direito, erraram seguindo o caminho de Balaão... Portanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro" (2 Pe 2.15,20-22).
Comentário: Pedro retrata a situação dos falsos mestres que anteriormente receberam a redenção pelo sangue de Jesus, depois voltaram à escravidão do pecado e perderam a salvação.


Conclusão

Ao terminar de fazer o homem à sua imagem e conforme sua semelhança, Deus declarou que Sua obra era muito boa (Gn 1.31). Adão estava livre para tomar decisões, até para desobedecer ao Criador, como de fato desobedeceu (Gn 2.16-17; 3.1-6). Nas palavras do Senhor a Caim (Gn 4.7) nota-se que a liberdade de decidir continua fazendo parte do ser humano.
A salvação em Cristo é oferecida a todos os homens porque Ele morreu por todos os pecadores, pelo mundo inteiro e não apenas pelos eleitos (2 Co 5.14-15; Hb 2.9; 1 Jo 2.2). A salvação está disponível a todos, mas os interessados deverão buscá-la na cruz, pois é dada somente aos que crêem.
Não existe eleição sem Cristo. A condição para sermos eleitos é a fé obediente em Cristo Jesus. Vejam:
"Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo, como também NOS ELEGEU NELE [em Cristo] antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em caridade, e nos PREDESTINOU para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade" (Ef 1.3-5).



Capítulo VII
A GRAÇA COMUM DE DEUS NO
REFREAMENTO DA PECAMINOSIDADE HUMANA


Introdução

Como vimos, a queda perverteu a imagem de Deus segundo a qual o homem foi criado e que, em conseqüência disso, a pessoa humana age pecaminosamente em sua relação com Deus, com o próximo e com a natureza. Por causa da queda cada ser humano é fundamentalmente egocêntrico e sem amor, odiando a Deus, odiando os outros e devastando a natureza.
Se Deus não refreasse a pecaminosidade humana seria impossível viver neste mundo.
Não obstante as Escrituras declararem a depravação total da humanidade, muitos de nós têm bons vizinhos, podemos confiar em pessoas com quem fazemos negócios. Muitos de nós conhecem pessoas que não obstante não serem cristãs, são amáveis, prestativas e honestas. Como explicar isto? A resposta é o nosso estudo de hoje sobre a Graça Comum.
Que explicação podemos dar para a bondade que, em certa medida, constatamos nos incrédulos?

Definição de Graça Comum

"Graça Comum é a restringência e também a influência persuasiva do Espírito Santo agindo através da verdade revelada no Evangelho, ou através da luz da razão e da consciência, aumentando o efeito moral natural de tal verdade sobre o entendimento, consciência e coração. Ela não envolve nenhuma mudança de coração, mas simplesmente a melhora dos poderes naturais da verdade, a restringência das paixões más, e o aumento da emoções naturais em vista do pecado, do dever e do interesse próprio"
"Graça comum é cada favor de qualquer espécie ou grau, excetuando a salvação, que este mundo imerecedor e maldito pelo pecado, desfruta das mãos de Deus"
Por Graça Comum ou universal (porque alcança todos indiscriminadamente) entende-se uma graça que restringe a manifestação do pecado na vida humana sem remover a pecaminosidade humana, permitindo que incrédulos profiram muitas verdades e produzam muitos feitos que são bons. É uma graça que refreia o pecado, porém sem regenerar o ser humano.


1 – BASE BÍBLICA PARA A GRAÇA COMUM:

A Bíblia ensina a existência de uma graça de Deus que restringe (freia) o pecado na vida daqueles que não são o Seu povo.
Gênesis 20:6 "Respondeu-lhe Deus em sonho: Bem sei que com sinceridade de coração fizeste isso; daí o ter impedido eu de pecares contra mim e não te permiti que a tocasses." – Abimeleque não era, obviamente, um crente. Todavia, Deus o impediu de pecar.
Romanos 1:24-28 "Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si;
pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!
Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza;
semelhantemente, os homens também, deixando o contacto natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro.
E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes,"
Este texto mostra que houve épocas em que Deus não restringiu a manifestação do pecado. Deus "os entregou", "os abandonou" aos seus próprios pecados.
Romanos 13:3-4 "Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal".
Punições tais como multas, sentenças de prisão e outros é uma maneira de restringir o pecado. (I Pedro 2:13,14)


2 – DIFERENÇAS DE GRAÇA COMUM E GRAÇA ESPECIAL:

A diferença entre elas deve ser vista no resultado que elas realizam naqueles que são totalmente depravados.
a.     A Graça Especial tem uma conotação redentora, enquanto a Comum é sinônima de não-redentora. A Graça Comum refreia o pecado, mas não muda a natureza. Ela segura a manifestação do pecado, mas não o extingue.
b.     A Graça Especial muda as disposições interiores retirando do pecador a inimizade contra Deus. A Graça Comum não provoca mudanças na vida do pecador. É apenas um freio.
c.      A Graça Especial muda o coração, a comum muda apenas a atitude. A mudança realizada pela graça comum é apenas moral e não espiritual.
d.     A Graça Especial atinge somente os eleitos, enquanto a comum atinge a todos indistintamente, como o próprio nome diz, é "comum".
e.       

3 – A NATUREZA DA GRAÇA COMUM:

Calvino ensinou que há uma graça de Deus que restringe a manifestação do pecado na vida humana sem remover a pecaminosidade humana.
Negativamente = A graça comum restringe o pecado
a.     Restringe a manifestação do pecado. Gênesis 20:6; II Reis 19: 27-28; Gênesis 4:14-15.
Pela operação do Espírito, Deus evita que todas as potencialidades do homem para o mal se manifestem em toda a sua violência.
b.     Restringe a manifestação da ira divina. Rm 2:4.
Deus age sobre Si mesmo restringindo a manifestação plena da Sua vingança contra atos maus dos homens. A paciência de Deus para com os homens é uma manifestação da graça comum. Temporariamente Ele suspende Sua ira.
Rm 2:4 - "Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?
c.     Restringe a manifestação da plenitude da pecaminosidade humana.
O ser humano é depravado, mas nem sempre vemos a manifestação da sua pecaminosidade que seja proporcional com sua potencialidade de pecar. O homem não peca tudo o que é capaz.
Positivamente: Promove a justiça
a.     O irregenerado é recipiente da bondade de Deus.
Gn 39:5 "E, desde que o fizera mordomo de sua casa e sobre tudo o que tinha, o SENHOR abençoou a casa do egípcio por amor de José; a bênção do SENHOR estava sobre tudo o que tinha, tanto em casa como no campo."
At 14:16-17 "o qual, nas gerações passadas, permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos;
contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria."
Lc 6:35-37 "Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus.
Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai.
Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados;"
Lc 16:25 "Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente, os males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormentos."
A incredulidade dos homens não é motivo para eles não receberem bênçãos de Deus.
b.     O irregenerado é capacitado a fazer coisas boas.
O homem é incapaz de por ele mesmo fazer coisas boas. Se as faz é pela graça de Deus (Mt 5:46; Lc 6:34).
Calvino diz que os incrédulos podem ser revestidos dos dons excelentes de Deus (música, poesia, pintura, artes, ciência, etc.).
"Toda verdade vem do Espírito de Deus e portanto rejeitar ou desprezar as coisas boas que os incrédulos fazem é insultar o Espírito Santo de Deus.


4 – OS MEIOS PELOS QUAIS O PECADO É REFREADO (Restringido)

a.     A revelação geral de Deus (a natureza) – Rm 2:14-15
b.     O governo civil – Rm 13:3-4 – I Pe 2:13,14
Multas, prisões etc...
c.     Os relacionamentos sociais ou opinião pública.
Alguns pecados não cometemos porque:
·         Somos casados, temos uma família, vizinho, colegas, zelamos por nossa reputação...
·          

5 – O PROPÓSITO ÚLTIMO DA GRAÇA COMUM

O grande propósito da graça comum de Deus, como podemos deduzir, é o bem-estar do povo eleito de Deus. Mt 24:21-22.


CONCLUSÃO:

Qual o valor da Doutrina da Graça Comum?
1. A Doutrina da Graça Comum sublinha o poder destrutivo do pecado.
2. A Doutrina da Graça Comum reconhece os dons de que vemos nos seres humanos irregenerados como dons de Deus.
3. A Doutrina da Graça Comum nos ajuda a explicar a possibilidade da civilização e cultura nesta terra a despeito da condição decaída do homem.





Capítulo VIII
LEI E GRAÇA: UMA VISÃO REFORMADA


É quase um paradigma para os cristãos modernos associar o Antigo Testamento à Lei e o Novo Testamento à Graça. Em várias oportunidades propus a estudantes de seminário e na escola dominical estabelecer o relacionamento entre os termos e, invariavelmente, a resposta tem sido a seguinte relação:
LEI — Antigo Testamento
GRAÇA — Novo Testamento

I. Estamos sob a Lei ou sob a graça?

Esse questionamento reflete um entendimento confuso do ensino bíblico acerca da lei e da graça de Deus. Muitos associam a lei como um elemento pertencente exclusivamente ao período do Antigo Testamento e a graça como um elemento neotestamentário. Isso é muitas vezes o fruto do estudo apressado de textos como:
...sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado (Gálatas 2.16).
Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça (Romanos 6.14).
E, de fato, uma leitura isolada dos textos acima pode levar o leitor a entender lei e graça como um binômio de oposição. Lei e graça parecem opostos, sem reconciliação — o cristão está debaixo da graça e conseqüentemente não tem qualquer relação com a lei. No entanto, essa leitura é falaciosa. O entendimento isolado desses versos leva a uma antiga heresia chamada antinomismo, a negação da lei em função da graça. Nessa visão, a lei não tem qualquer papel a exercer sobre a vida do cristão. O coração do cristão torna-se o seu guia e a lei se torna dispensável.1 O oposto dessa posição é o legalismo ou moralismo, que é a tendência de enfatizar a lei em detrimento da graça (neonomismo). Nesse caso, a obediência não é um fruto da graça de Deus, uma evidência da fé, mas uma tentativa de agradar a Deus e de se adquirir mérito diante dele. Exatamente contra essa idéia é que a Reforma Protestante lutou, apresentando como uma de suas principais ênfases a sola gratia (só a graça)..
No século XVI, os católicos acusavam os reformadores de antinomistas (que é contra a lei), de serem contrários à lei de Deus. Até mesmo o grande reformador Martinho Lutero expressou preocupação quanto a alguns de seus seguidores que, em seu zelo de proclamar a graça por tanto tempo desprezada pela Igreja, acabavam por desprezar a Lei. Desde a reforma têm aparecido movimentos enfatizando um ou outro desses aspectos, lei ou graça, sempre de forma excludente. Um dos mais recentes movimentos nessa linha, enfatizando a graça em detrimento da lei, é o dispensacionalismo. Essa forma de abordagem surgiu no século XIX, caracterizando a lei como a forma de salvação no período mosaico e o evangelho como a forma de salvação na dispensação da igreja. Esse é, possivelmente, o movimento que mais influência exerce atualmente na interpretação do papel da lei e da graça entre os evangélicos ao redor do mundo.
Em uma direção oposta, outro grande movimento foi iniciado por Karl Barth, em seu livro God, Grace and Gospel, onde argüi por uma unidade básica entre lei e graça, direcionando seu pensamento para um novo moralismo.2 Para termos uma boa idéia de como o debate ainda é atual, em 1993 foi publicado o livro Five Views on Law and Gospel, da coleção Counterpoints, no qual cinco escritores evangélicos contemporâneos expressam diferentes pontos de vista sobre a relação entre a lei e o evangelho (graça).3 Sem sombra de dúvida, o assunto ainda está muito longe de apresentar um consenso entre os evangélicos.
As implicações da forma como entendemos a relação entre lei e graça vão muito além do aspecto puramente intelectual. Esse entendimento vai, na verdade, determinar toda a forma como alguém enxerga a vida cristã e que tipo de ética esse cristão irá assumir em sua caminhada. John Hesselink, um estudioso sobre a relação entre lei e graça, exemplifica que, na década de 1960, os cristãos proponentes da ética situacionista se levantaram contra leis, regras e princípios gerais, propondo uma nova moralidade.4 Esse movimento propõe que a ética das Escrituras não é absoluta, mas depende do contexto. Nem mesmo a lei moral de Deus é absoluta; ela depende da situação. Essa proposta surgiu e se desenvolveu dentro do cristianismo tradicional, alcançando seguidores de todas as bandeiras denominacionais, praticamente sem restrições. A lei não tem mais qualquer papel determinante na ética cristã; o que determina a ética cristã é o “princípio do amor,” conclui o movimento. A conseqüência dessa conclusão é que a graça suplanta a lei. As decisões éticas devem ser tomadas levando em consideração o princípio do amor. Tome-se por exemplo a questão do aborto no caso de estupro. Aprová-lo nessas circunstâncias é um ato de amor baseado no princípio do amor à mãe que foi estuprada. Ou mesmo a questão da pena de morte. Ela não se encaixa no princípio do amor ao próximo e, portanto, não pode ser uma prática cristã. Até mesmo situações como o divórcio passam a ser aceitáveis pelo princípio do amor. A separação de casais passa a ser aceitável pelo mesmo princípio. O mesmo acontece com o homossexualismo. Aceitar o homossexualismo passa a ser um ato de amor, e portanto, essa prática não pode ser considerada como pecado, ou, se assim considerada, é um pecado aceitável.
Mas seria essa a verdadeira conclusão do cristianismo e o verdadeiro ensino das Escrituras sobre a lei? É isso que o estudo das Escrituras e o cristianismo histórico nos ensinam? Nas páginas a seguir avaliaremos o pensamento de Calvino a respeito dessa questão e a aplicação calvinista refletida na Confissão de Fé de Westminster (CFW).

II. O Uso da Lei

Para entendermos bem o uso da lei precisamos entender o que são o pacto das obras e o pacto da graça. Assim, é prudente começarmos por esclarecer o que são esses pactos e qual o conceito de lei que está envolvido na questão.
Pacto das Obras e Pacto da Graça5 é a terminologia usada pela Confissão de Fé de Westminster6 para explicar a forma de relacionamento adotada por Deus para com as suas criaturas, os seres humanos. Mais do que isso, essa terminologia reflete o sistema teológico adotado pelos reformados, conhecido como teologia federal.7 De forma bem resumida, podemos dizer que o pacto das obras é o pacto operante antes da queda e do pecado. Adão e Eva viveram originalmente debaixo desse pacto e sua vida dependia da sua obediência à lei dada por Deus de forma direta em Gênesis 2.17 — não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal.8 Adão e Eva descumpriram a sua obrigação, desobedeceram a lei e incorreram na maldição do pacto das obras, a morte.
O pacto da graça é a manifestação graciosa e misericordiosa de Deus, aplicando a maldição do pacto das obras à pessoa de seu Filho, Jesus Cristo, fazendo com que parte da sua criação, primeiramente representada em Adão, e agora representada por Cristo, pudesse ser redimida. Porém, a lei antes da queda não se resume à ordem de não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. A lei não deve ser reduzida a um aspecto somente. Existem outras leis, implícitas e explícitas, no texto bíblico. Por exemplo, a descrição das bênçãos em Gênesis 1.28 aparece nos imperativos sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e dominai. Esses imperativos foram ordens claras do Criador a Adão e sua esposa e, por conseguinte, eram leis. O relacionamento de Adão com o Criador estava vinculado à obediência, a qual ele era capaz de exercer e assim cumprir o papel para o qual fora criado. No entanto, o relacionamento de Adão com Deus não se limitava à obediência. Esse relacionamento, acompanhado de obediência, deveria expandir-se de maneira que nele o Deus criador fosse glorificado e o ser humano pudesse ter plena alegria em servi-lo. A Confissão de Fé nos fala da lei de Deus gravada no coração do homem (CFW 4.2). Essa lei gravada no coração do ser humano reflete o tipo de intimidade reservada por Deus para as suas criaturas.
Nesse contexto podemos perceber que a lei tinha um papel orientador para o ser humano. Para que o seu relacionamento com o Criador se mantivesse, o homem deveria ser obediente e assim cumprir o seu papel. A obediência estava associada à manutenção da bênção pactual. A não obediência estava associada à retirada da bênção e à aplicação da maldição. A lei, portanto, tinha uma função orientadora. O ser humano, desde o princípio, conheceu os propósitos de Deus através da lei. Tendo quebrado a lei, ele tornou-se réu da mesma e recebeu a clara condenação proclamada pelo Criador: a morte.
O que acontece com essa lei depois da queda e da desobediência? Ela tem o mesmo papel? Ela possui diferentes categorias? Por que Deus continuou a revelar a sua lei ao ser humano caído?


III. De que Lei estamos Falando?

A revelação da lei de Deus, como expressão objetiva da sua vontade, encontra-se registrada nas Escrituras. Esse registro, que começou nos tempos de Moisés, fala-nos da lei que Deus deu a Adão e também aos seus descendentes. Essa lei foi revelada ao longo do tempo. Dependendo das circunstâncias e da ocasião em que foi dada, possui diferentes aspectos, qualidades ou áreas sobre as quais legisla. Assim, é importante observar o contexto em que cada lei é dada, a quem é dada e qual o seu objetivo manifesto. Só assim poderemos saber a que estamos nos referindo quando falamos de Lei.
A Confissão de Fé, no capítulo 18, divide esses aspectos em lei moral, civil e cerimonial. Cada uma tem um papel e um tempo para sua aplicação:
(a) Lei Civil ou Judicial – representa a legislação dada à sociedade israelita ou à nação de Israel; por exemplo, define os crimes contra a propriedade e suas respectivas punições.
(b) Lei Religiosa ou Cerimonial – representa a legislação levítica do Velho Testamento; por exemplo, prescreve os sacrifícios e todo o simbolismo cerimonial.
(c) Lei Moral – representa a vontade de Deus para o ser humano, no que diz respeito ao seu comportamento e aos seus principais deveres.

A. Toda a Lei é aplicável aos nossos dias?
Quanto à aplicação da Lei, devemos exercitar a seguinte compreensão:
(a) A Lei Civil tinha a finalidade de regular a sociedade civil do estado teocrático de Israel. Como tal, não é aplicável normativamente em nossa sociedade.
(b) A Lei Religiosa tinha a finalidade de imprimir nos homens a santidade de Deus e apontar para o Messias, Cristo, fora do qual não há esperança. Como tal, foi cumprida com sua vinda.
(c) A Lei Moral tem a finalidade de deixar bem claro ao homem os seus deveres, revelando suas carências e auxiliando-o a discernir entre o bem e o mal. Como tal, é aplicável em todas as épocas e ocasiões..
Assim sendo, é fundamental que, ao ler o texto bíblico, saibamos identificar a que tipo de lei o texto se refere e conhecer, então, a aplicabilidade dessa lei ao nosso contexto. As leis civis e cerimoniais de Israel não têm um caráter normativo para o povo de Deus em nossos dias, ainda que possam ter outra função como, por exemplo, ensinar-nos princípios gerais sobre a justiça de Deus. Portanto, a lei que permanece “vigente” em nossa e em todas as épocas é a lei moral de Deus. Ela valeu para Adão assim como vale para nós hoje. Isto implica que estamos, hoje, debaixo da lei?

B. Estamos sob a Lei ou sob a Graça de Deus?
Muitas interpretações erradas podem resultar de um entendimento falho das declarações bíblicas de que “não estamos debaixo da lei, e sim da graça” (Romanos 6.14). Se considerarmos que os três aspectos da lei de Deus apresentados acima são distinções bíblicas, podemos afirmar:
(a) Não estamos sob a Lei Civil de Israel, mas sob o período da graça de Deus, em que o evangelho atinge todos os povos, raças, tribos e nações.
(b) Não estamos sob a Lei Religiosa de Israel, que apontava para o Messias, foi cumprida em Cristo, e não nos prende sob nenhuma de suas ordenanças cerimoniais, uma vez que estamos sob a graça do evangelho de Cristo, com acesso direto ao trono, pelo seu Santo Espírito, sem a intermediação dos sacerdotes.
(c) Não estamos sob a condenação da Lei Moral de Deus, se fomos resgatados pelo seu sangue, e nos achamos cobertos por sua graça. Não estamos, portanto, sob a lei, mas sob a graça de Deus, nesses sentidos.
Entretanto...
(a) Estamos sob a Lei Moral de Deus, no sentido de que ela continua representando a soma de nossos deveres e obrigações para com Deus e para com o nosso semelhante.
(b) Estamos sob a Lei Moral de Deus, no sentido de que ela, resumida nos Dez Mandamentos, representa o caminho traçado por Deus no processo de santificação efetivado pelo Espírito Santo em nossa pessoa (João 14.15). Nos dois últimos aspectos, a própria Lei Moral de Deus é uma expressão de sua graça, representando a revelação objetiva e proposicional de sua vontade.


IV. Os Três usos da

Para esclarecer a função da lei de Deus dada por intermédio de Moisés12 nas diferentes épocas da revelação, Calvino usou a seguinte terminologia:

A.      O Primeiro Uso da Lei: Usus Theologicus

É a função da lei que revela e torna ainda maior o pecado humano. Segue o ensino de Paulo em Romanos 3.20 e 5.20: “...visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa; mas onde abundou o pecado, superabundou a graça.”13
Calvino aponta para esse papel da lei diante da realidade do homem caído. Sendo o pecado abundante, vivemos no tempo em que a lei exerce o “ministério da morte” (2 Co 3.7) e, por conseguinte, “opera a ira” (Rm 4.15).
Cabe aqui uma nota sobre a terminologia dos reformadores (especialmente Calvino) a respeito da lei. A palavra lei é usada em pelo menos dois sentidos distintos, que devem ser entendidos a partir do contexto. Em alguns casos o termo lei é usado como um sinônimo de Antigo Testamento, da mesma forma como Evangelho é usado como um sinônimo de Novo Testamento. Em outros contextos o termo lei é usado como uma categoria especial referente ao seu uso como categoria de comando, um mandamento direto expressando a vontade absoluta de Deus sobre alguma coisa, sem promessa. É dessa forma que Calvino interpreta a lei em 2 Co 3.7, Rm 4.15 e 8.15. Nesse sentido, o binômio que se confirma é o binômio Lei x Evangelho. O mandamento que não traz salvação versus a graça salvadora de Deus. Porém, não podemos esquecer que é o próprio Antigo Testamento que nos apresenta a promessa da salvação de Deus, a sua graça operante sobre os crentes da antiga dispensação.
Em Romanos, Paulo aponta para a perfeição da lei, que, se obedecida, seria suficiente para a salvação. Porém, nossa natureza carnal confronta-se com a perfeição da lei, e essa, dada para a vida, torna-se em ocasião de morte. Uma vez que todos são comprovadamente transgressores da lei, ela cumpre a função de revelar a nossa iniqüidade.
Explicando isso, Calvino comenta:
Ainda que o pacto da graça se ache contido na lei, não obstante Paulo o remove de lá; porque ao contrastar o evangelho com a lei, ele leva em consideração somente o que fora peculiar à lei em si mesma, ou seja, ordenança e proibição, refreando assim os transgressores com a ameaça de morte. Ele atribui à lei suas próprias qualificações, mediante as quais ela difere do evangelho. Contudo, pode-se preferir a seguinte afirmação: “Ele só apresenta a lei no sentido em que Deus, nela, se pactua conosco em relação às obras.14


B. O Segundo Uso da Lei: Usus Civilis
É a função da lei que restringe o pecado humano, ameaçando com punição as faltas contra ela mesma.15 É certo que essa função da lei não opera nenhuma mudança interior no coração humano, fazendo-o justo ou reto ao obedecê-la. A lei opera assim como um freio, refreando “as mãos de uma ação extrema.”16 Portanto, pela lei somente o homem não se torna submisso, mas é coagido pela força da lei que se faz presente na sociedade comum. É exatamente isto que permite aos seres humanos uma convivência social. Vivemos em sociedade para nos proteger uns dos outros. Com o tempo, o homem pode aprender a viver com tranqüilidade por causa da lei de Deus que nos restringe do mal. O homem é capaz, por causa da lei de Deus, de copiá-la para o seu próprio bem. É até mesmo capaz de criar leis que refletem princípios da justiça de Deus. Calvino menciona o texto de 1 Timóteo 1.9-10 para mostrar essa função da lei:
...tendo em vista que não se promulga lei para quem é justo, mas para transgressores e rebeldes, irreverentes e pecadores, ímpios e profanos, parricidas e matricidas, homicidas, impuros, sodomitas, raptores de homens, mentirosos, perjuros e para tudo quanto se opõe à sã doutrina...
Assim, a lei exerce o papel de coerção para esses transgressores e evita que esse tipo de mal se alastre ainda mais amplamente no seio da sociedade humana. Essa ação inibidora da lei cumpre ainda um outro papel importante no caso dos eleitos não regenerados. Ela serve como um aio, um condutor a Cristo, como diz Paulo em Gálatas 3.24: “...de maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé.” Dessa forma ela serviu à sociedade judia e serve à sociedade humana como um todo. Da mesma forma essa lei serve ao eleito ainda não regenerado. Ele, antes da manifestação da sua salvação, é ajudado pela lei a não cometer atrocidades, não como uma garantia de que não fará algo terrível, mas como uma ajuda, pelo temor da punição.


C. O Terceiro Uso da Lei


Esse uso da lei só é válido para os cristãos — ensina-os, a cada dia, qual a vontade de Deus.17 Segundo o texto de Jeremias 31.33, a lei de Deus seria escrita na mente e no coração dos crentes: “Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.
Se a lei de Deus está impressa na mente e escrita no coração dos crentes, qual a função da lei escrita por Moisés? Ela é realmente necessária? Não basta um coração convertido, amoroso e cheio de compaixão para conhecer a vontade de Deus? A “lei do amor” e a consciência do cristão orientado pelo Espírito Santo não bastam? Não seria suficiente apenas termos a paz de Cristo como árbitro de nossos corações? (Cl 3.15).
Creio que não é bem assim. A lei, assim como no Éden, tem ainda um papel orientador para os cristãos. Embora eles sejam guiados pelo Espírito de Deus, vivendo e dependendo tão somente da sua maravilhosa graça, a “lei é o melhor instrumento mediante o qual melhor aprendam cada dia, e com certeza maior, qual seja a vontade de Deus, a que aspiram, e se lhes firme na compreensão.”18 A paz de Cristo como o árbitro dos corações só é clara quando conhecemos com clareza a vontade de Deus expressa na sua lei. Deus expressa sua vontade na sua lei e essa se torna um prazer para o crente, não uma obrigação. Calvino exemplifica com a figura do servo que de todo o coração se empenha em servir o seu senhor, mas que, para ainda melhor servi-lo, precisa conhecer e entender mais plenamente aquele a quem serve. Assim, o crente, procurando melhor servir ao seu Senhor empenha-se em conhecer a sua vontade revelada de maneira clara e objetiva na lei.
A lei também serve como exortação para o crente. Ainda que convertidos ao Senhor, resta em nós a fraqueza da carne, que pode ser, no linguajar de Calvino, chicoteada pela lei, não permitindo que estejamos à mercê da inércia da mesma.
Vejamos alguns exemplos do relacionamento entre o crente do Antigo Testamento e o terceiro uso a lei. Primeiramente, podemos observar o prazer do salmista ao falar da lei no Salmo 19.7-14:
“ A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria aos símplices.
“Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina os olhos.
“O temor do SENHOR é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos igualmente justos.
“São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos.
“Além disso, por eles se admoesta o teu servo; em os guardar, há grande recompensa.
“Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas.
“Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão.
“As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, SENHOR, rocha minha e redentor meu.”
Que princípio de morte opera nessa lei, segundo o salmista? Nenhum. Para o regenerado, o crente no Senhor, a lei é prazer, é desejável, inculca temor, restaura a alma e lhe dá sabedoria. Isso de alguma forma parece contradizer os ensinos do Novo Testamento. O terceiro uso da lei é claro para o salmista. A lei em si não faz nenhuma dessa coisas, mas para o coração regenerado ela traz prazer e alegria. Na lei o salmista reconhece a sua rocha, o seu redentor, Jesus Cristo: “rocha minha e redentor meu.”
Observe também o Salmo 119.1-20:
“Bem aventurados os irrepreensíveis no seu caminho, que andam na lei do SENHOR.
“Bem aventurados os que guardam as suas prescrições e o buscam de todo o coração; não praticam iniqüidade e andam nos seus caminhos.
“Tu ordenaste os teus mandamentos, para que os cumpramos à risca.
“Tomara sejam firmes os meus passos, para que eu observe os teus preceitos.
“Então, não terei de que me envergonhar, quando considerar em todos os teus mandamentos.
“Render-te-ei graças com integridade de coração, quando tiver aprendido os teus retos juízos.
“Cumprirei os teus decretos; não me desampares jamais.
“De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra.
“De todo o coração te busquei; não me deixes fugir aos teus mandamentos.
“Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti.
“Bendito és tu, SENHOR; ensina-me os teus preceitos.
“Com os lábios tenho narrado todos os juízos da tua boca.
“Mais me regozijo com o caminho dos teus testemunhos do que com todas as riquezas.
“Meditarei nos teus preceitos e às tuas veredas terei respeito.
“Terei prazer nos teus decretos; não me esquecerei da tua palavra.
“Sê generoso para com o teu servo, para que eu viva e observe a tua palavra.
“Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei.
“Sou peregrino na terra; não escondas de mim os teus mandamentos.
“Consumida está a minha alma por desejar, incessantemente, os teus juízos.”
De onde vem esse desejo do salmista pelos juízos de Deus? Da lei que opera sobre o homem natural? Certamente que não. Mas para o homem regenerado a lei de Deus se torna objeto de desejo da alma. A lei é maravilhosa para aquele que tem os olhos abertos pelo Senhor. Amar a lei de Deus é ensino claro das Escrituras para os regenerados. Viver na lei de Deus é bênção para o cristão, para o salvo. Ela é o nosso orientador para melhor conhecermos a vontade do nosso Senhor e assim melhor servi-lo. Observe que o viver segundo a lei de Deus é considerado uma bem-aventurança, é como ter fome e sede de justiça.
Pergunto: O que seria do cristão sem a lei para orientá-lo? Como conheceria ele a vontade de Deus? (essa, aliás, é uma das perguntas mais freqüentes entre os crentes no seu dia-a-dia). Ele seria um perdido, buscando respostas em seu próprio coração, na igreja, no consenso eclesiástico, na autoridade de alguém que considerasse superior. Mas o crente tem a lei de Deus, expressando objetivamente qual é o desejo do Criador para a criatura, qual o desejo do Pai para seus filhos.
Mas essa visão da lei não nos traz de volta ao legalismo? Estamos então novamente debaixo da lei? Certamente que não. Para bem entendermos a posição bíblica expressa por Calvino sobre a lei no pacto da graça, precisamos entender também como ele relaciona Cristo e a Lei.

V. Cristo e a Lei

Precisamos entender que Cristo satisfez e cumpriu a lei de forma plena e completa. Ele não veio revogar a lei. Façamos uma breve análise de Mateus 5.17-19: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus.”
Alguns pontos interessantes são demonstrados por Jesus nessa passagem:
(a) Ele veio cumprir a lei e não revogá-la.
(b) A lei seria cumprida totalmente, em todas as suas exigências e em todas as suas modalidades (moral, cerimonial e civil) enquanto houvesse sentido em fazê-lo.
(c) Aquele que viola a lei não pode chegar ao Reino dos Céus! (“aquele que violar...será considerado mínimo no reino dos céus.”) “Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus de modo algum entrareis no reino dos céus”. “Queres entrar na vida, guarda os mandamentos”, disse Jesus ao jovem rico. Ninguém será salvo na desobediência a Deus, embora a causa da salvação esteja na graça divina e não na obediência. A obediência é o resultado da salvação, fruto da fé e do amor a Deus.
(d) Aquele que cumpre a lei será considerado grande no Reino dos Céus.Como entender essas conclusões de Jesus com respeito a si mesmo e à Lei?
(a) Ele veio cumprir a lei e de fato a cumpriu em todas as suas dimensões: cerimonial, civil e moral. Não houve qualquer aspecto da lei para o qual Cristo não pudesse atentar e cumprir. Cristo cumpriu a lei de forma perfeita, sendo obediente até a própria morte. Ele tomou sobre si a maldição da lei. Ele se torna o fundamento da justificação para o eleito.
(b) Ele não só cumpriu a lei perfeitamente, mas também interpretou a lei de forma perfeita, permitindo aos que comprou na cruz, entendê-la de forma mais completa, mais abrangente.
(c) Os que nele crêem agora também podem cumprir os aspectos necessários da lei para uma vida santa. No entanto, esses que por ele são salvos não são mais dependentes da lei para a sua salvação. Por isso há uma diferença clara entre os que chegam ao Reino dos Céus: alguns serão considerados maiores do que outros.
(d) Cristo, ao cumprir a lei, ab-roga a maldição da lei, mas não a sua magisterialidade.19 A lei continua com o seu papel de ensinar ao ser humano a vontade de Deus. A ab-rogação da maldição da lei é aquilo a que Paulo se refere em textos como Rom. 6.14 e Gál. 2.16 — estamos debaixo da graça! A lei continua no seu papel de nos ensinar, pela obra do Espírito Santo. Não somos mais condenados pela lei nem servos da mesma. A lei, por expressar a vontade de Deus, se nos torna um prazer.
Johnson resume o material sobre Cristo e a lei no pensamento de Calvino da seguinte forma: O ponto principal, claro, é que Cristo cumpriu a lei em todos os aspectos, seja no vivê-la, no submeter-se à maldição da lei para satisfazer a sua exigência de punição dos transgressores, ou restabelecendo sobre outras bases a possibilidade de cumprir aquilo que a lei requer. Cristo, em outras palavras, satisfez tudo o que a lei exigiu ou pode vir a exigir da humanidade. A justificação que estava associada à lei agora pertence completamente a Cristo.20
Portanto, nossa obediência à lei não acontece e não pode acontecer sem Cristo. Tentar viver debaixo da lei, sem Cristo, é submeter-se à escravidão. Porém, obedecer à lei com Cristo é prazer e vida. Também, nesse sentido, Cristo é o fim da lei!
Conclusão


Como fica o aparente paradoxo inicial entre a Lei e Graça? Como corrigir essa visão distorcida? Mais uma vez creio que a visão correta da Confissão de Fé pode nos ajudar a entendê-lo:
Este pacto da graça é freqüentemente apresentado nas Escrituras pelo nome de Testamento, em referência à morte de Cristo, o testador, e à perdurável herança, com tudo o que lhe pertence, legada neste pacto.
Este pacto no tempo da lei não foi administrado como no tempo do Evangelho. Sob a lei foi administrado por promessas, profecias, sacrifícios, pela circuncisão, pelo cordeiro pascoal e outros tipos e ordenanças dadas ao povo judeu, prefigurando, tudo, Cristo que havia de vir; por aquele tempo essas coisas, pela operação do Espírito Santo, foram suficientes e eficazes para instruir e edificar os eleitos na fé do Messias prometido, por quem tinham plena remissão dos pecados e a vida eterna: essa dispensação chama-se o Velho Testamento.
Sob o Evangelho, quando foi manifestado Cristo, a substância, as ordenanças pelas quais este pacto é dispensado são a pregação da palavra e a administração dos sacramentos do batismo e da ceia do Senhor; por estas ordenanças, posto que poucas em número e administradas com maior simplicidade e menor glória externa, o pacto é manifestado com maior plenitude, evidência e eficácia espiritual, a todas as nações, aos judeus bem como aos gentios. É chamado o Novo Testamento. Não há, pois, dois pactos de graça diferentes em substância mas um e o mesmo sob várias dispensações (CFW 7.4–6).
Portanto, ao relacionarmos lei e graça devemos nos lembrar dos diversos aspectos e nuanças que estão envolvidos nesses termos.
Primeiramente, encontramos tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, a graça de Deus. Ele não reserva a sua graça somente para o período do Novo Testamento como muitos pensam. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento podemos ver Deus agindo graciosamente, salvando aqueles que crêem na promessa do Redentor. Assim Abel, Enoque, Noé, Abraão e todos os santos do Antigo Testamento foram remidos. Nenhum deles foi salvo por obediência à Lei, ainda que o Senhor exigisse deles, assim como requer de nós, que sejamos obedientes.
Em segundo lugar, a lei opera para vida ou morte no pacto das obras e somente para a morte no pacto da graça. No pacto das obras, por mérito, o homem poderia continuar vivo e merecer a “árvore da vida.” Portanto, pela obediência o homem viveria. No pacto da graça a lei opera para condenação do homem caído. Porque o homem já está condenado, ele não pode mais cumprir a lei e ela lhe serve para a morte.
Por último, o crente se beneficia da lei estando debaixo da obra redentora de Cristo. O mérito de Cristo, sendo obediente à lei até as últimas conseqüências, compra-nos o benefício da salvação e a graça de conhecermos a vontade de Deus pela sua lei. O único modo de o ser humano ser salvo é submeter-se totalmente àquele que, por mérito, compra-lhe a salvação. Ainda aqui o homem é beneficiado pela Lei. Cristo a cumpre e declara justificado aquele por quem ele morre.
Portanto, o nosso gráfico do início deveria ser modificado para refletir a verdade bíblica sobre a Lei e a Graça de Deus:

Dispensação do
Antigo Testamento
Dispensação
do Novo Testamento
Obras-Fruto da obediência  a Deus.
Obras - como fruto da fé, obediência.
Lei – Revela a vontade de Deus, e apontava par o salvador.
Evangelho – Salva por meio da fé em Jesus.
Lei –justifica na obediência ao que tem fé, como Abraão. Condena o desobediente.
Lei – condena os injustos, revela o pecado, orienta a conduta do cristã. Dessobedece-la é pecado,  I Jo 3.4.
Graça – Misericórdia diviva no trato com seu povo. Causa da salvação.
Graça- Plena em Jesus Cristo. Causa da salvação.

“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele” (João 14.21).


 
CONCLUSÃO


A graça de Deus é a realidade pela qual os homens são salvos em todos os sentidos: justificados, santificados e glorificados. É ela que perdoa, aproxima de Deus e restaura o pecador à sua posição original de comunhão plena com seu Criador. O próprio evangelho, que é a boa nova da salvação, pode ser chamado de graça. É pelo favor de Deus que somos salvos, não por merecimentos próprios. Depois de ser agraciado, devemos permanecer firmes (1 Ped. 5:12), na qual devemos perseverar (Atos 13:43). É a graça e o conhecimento de Jesus Cristo (2 Ped. 3:18) nos quais o cristão deve crescer.[6]



APÊNDICE A

TEXTOS PROBLEMÁTICOS SOBRE GRAÇA

Existem alguns textos que parecem dar a entender que lei e graça são conceitos opostos, antagônicos, antitéticos. Afirmamos, no entanto, serem conceitos complementares e perfeitamente harmônicos.

João 1:17
Segundo a compreensão de alguns intérpretes, a declaração joanina de João 1:17 que a lei foi dada por intermédio de Moisés, mas a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo significa que a morte de Cristo introduziu a graça para tomar o lugar da lei. Cometem tríplice erro neste caso.

O Evangelho Não é Exclusividade Neotestamentária.

 Erram primeiramente ao conceber a idéia equivocada de que lei a graça revelam aspectos opostos da natureza divina. Segundo eles, a lei revelaria o aspecto irado e severo de Deus nfatizado no AT; enquanto a graça revelaria Seu lado misericordioso e amorável enfatizado no NT. Na verdade, graça e evangelho são conceitos encontradiços no AT. Paulo em Heb. 4:1-2 afirma que as boas-novas foram anunciadas aos israelitas recém-libertos do Egito e, em Gál. 3:8-9, que o evangelho foi preanunciado a Abraão e ainda em Rom. 4:3-6, diz que homens como Abraão e Davi foram justificados pela fé.
Jesus Não Aboliu a Lei.

 Erram em terceiro lugar porque concluem de maneira falaciosa que a morte de Jesus modificou, anulou ou diminuiu a lei dos Dez Mandamentos, quando isso na verdade não aconteceu, pois o próprio Jesus afirmou que não veio “revogar a lei” (Mat. 5:17). Há no NT cerca de cinqüenta provas diretas de que o Decálogo permanece em vigor.

A Graça Não Anula a Lei.

 Em segundo lugar, erram porque fazem parecer que a lei e a graça são conceitos contraditórios e antagônicos, quando na verdade são conceitos harmônicos e complementares (Sal. 85:10). Lei e graça não trabalham em competição, mas em perfeita cooperação. A lei aponta o pecado; a graça salva do pecado. A lei é a vontade de Deus; a graça é o poder para fazer a vontade de Deus. A graça, portanto, não anula a lei, mas capacita aquele que foi agraciado por ela a cumpri-la. A conjunção adversativa “mas”, presente na versão portuguesa e que sugere forte contraste entre a lei e a graça, não existe nos originais — foi interpolada por tradutores tendenciosos.

Antes de Cristo Havia Graça.

 Em terceiro lugar erram quando sugerem que antes de Cristo não havia graça nem verdade, pois a graça tem existido desde o início do mundo. Paulo fala da “graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos.” 2 Tim. 1:9. Abraão foi salvo pela graça (Gál. 3:8; Rom. 4:3). Jeremias fala da “graça no deserto” (Jer. 31:2). Noé achou graças aos olhos do Senhor (Gên. 6:8) e Davi foi salvo pela fé (Rom. 4:6), e assim aconteceu com muitas personagens bíblicas. Em matéria de salvação, todas as pessoas de todas as épocas sempre estiveram debaixo da graça. No Céu só haverá uma classe de salvos: os remidos pelo sangue de Cristo (Apoc. 5:9).
Note o que diz o teologo Mark Finley: “Tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento, a salvação é pela graça, por meio da fé. Deus não pode ter dois métodos de salvação. Tito 2:11 afirma: ‘porque a graça de Deus se tem manifestado trazendo salvação a todos os homens.’ No Antigo Testamento, as pessoas eram salvas por meio do Cristo que havia de vir. Cada cordeiro sacrificado apontava para a vinda do Messias (Gên. 3:21; 22:9-13). No Novo Testamento, as pessoas são salvas pelo Cristo que há de voltar. Numa circunstância, a fé apontava [para a frente] para a cruz; na outra, a fé olhava para trás, para a cruz. Jesus é o único meio de salvação (Atos 4:12).

Em Cristo Há Plenitude de Graça

O que João quis então dizer com “graça e verdade”? Por “graça”, quis dizer que, embora ela existisse no passado, foi revelada agora em “plenitude” na pessoa de Jesus, sem ser eclipsada pela interpretação legalista dos rabinos com relação ao sistema mosaico. Por “verdade”, quis dizer que em Cristo se cumpriram as sombras de todos os tipos e cerimônias do AT. O tipo encontrara o antítipo; a sombra, a realidade. Em nenhum momento, porém, João sugere que a lei ou o sábado foram abolidos.

Romanos 6:14 talvez seja o texto paulino mais freqüentemente utilizado como pretexto para a teoria de que, a partir de Cristo, os cristãos estão debaixo da graça e, por conseguinte, foram desobrigados da observância da Lei. A interpretação comum é a de que os cristãos já não se acham debaixo dos Dez Mandamentos como regra de conduta, pois seus valores morais provêm agora do princípio do amor revelado por Cristo. Esta, porém, apesar de sua aparente piedade, é uma interpretação viciosa da passagem. Eis as evidências:



O Tema do Capítulo Não é a Lei Moral.

 Não há nada no contexto imediato sugerindo que Paulo esteja tratando da Lei Moral propriamente dita. Tanto no contexto imediato como no remoto de todo o capítulo, o que Paulo faz é contrastar o domínio do pecado com o poder da graça de Cristo. Além disso, a expressão não é debaixo da Lei, mas debaixo de lei. Paulo não está se referindo aqui a qualquer lei em particular, mas à lei como um princípio. A idéia básica de seu argumento é a de que os cristãos se salvam não pelo princípio da lei, mas pelo princípio da graça.

A Interpretação Leva a Absurdos.

Interpretar a expressão “debaixo da lei” com o sentido de “sob a dispensação da lei mosaica” implicaria que os crentes que viveram sob a dispensação judaica não foram receptores da graça. Essa idéia é inteiramente absurda. Além do que, conforme John Murray perspicazmente observa, “o estar desobrigado da lei mosaica como dispensação não põe a pessoa automaticamente sob o regime da graça”.

A Lei Não é Descartada.

O próprio Paulo, depois de declarar que não estamos debaixo de lei, mas de graça, pergunta: “E daí? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, e sim da graça? De modo nenhum!” (v. 15). Nos termos mais enfáticos possíveis, Paulo declara que o fato de o cristão não utilizar a lei como meio de salvação não significa que tenha licença para quebrantá-la (Rom. 2:13; 3:31; 7:12; e 8:4).

O Significado de “Debaixo da Lei”.

 Ora, se estar sob a graça não nos isenta de guardar a lei, o que Paulo então quer dizer quando afirma que os cristãos não estão mais debaixo da lei?
Visto que “debaixo da graça” significa sob o imerecido favor de Deus, o contraste com “debaixo da lei” pressupõe a idéia de estar sob o desfavor de Deus ou condenação pronunciada pela Lei. Assim, em Rom. 6:14, Paulo ensina que os crentes não devem ser controlados pelo pecado (cf. Rom. 6:1-2, 6, 11-13) porque a graça de Deus os libertou do domínio do pecado e da condenação da Lei.
A antítese denota que “debaixo da lei” significa simplesmente que os cristãos não se acham mais “sob o domínio do pecado e, conseqüentemente ”sob a condenação da lei” porque a graça de Cristo os libertou de ambas as coisas. Isso fica bem claro quando lemos Rom. 3:19. ‘Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus.’ Aqui Paulo equipara o estar sob a lei com ‘ser culpável perante Deus’.

Sob a Condenação da Lei.

Em outras palavras, os que se acham debaixo da lei são aqueles que são culpados de transgredi-la (seja por legalismo, seja por antinomismo) e que, por isso mesmo, se acham sob a condenação dela. Esse é o motivo por que os cristãos não estão debaixo da lei. Pelo poder da graça, eles não mais a transgridem, portanto não são réus de juízo. “A graça não importa em liberdade para pecar, mas numa mudança de senhores, e numa nova obediência e serviço. A graça não anula a santa lei de Deus, mas unicamente a falsa relação do homem para com ela.”[8]
“À luz dessas considerações, concluímos que, longe de rejeitar a autoridade da Lei, Paulo ensina que os crentes não devem transgredir a Lei simplesmente porque a graça de Deus os libertou do pecado, pois ‘uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça’ (Rom. 6:18). Somente a mente pecaminosa ‘não se submete à lei de Deus (Rom 8:7). Mas os cristãos têm a mente do Espírito, que os capacita a cumprir os justos preceitos da Lei (Rom. 8:4). Assim, os cristãos não se acham mais ‘debaixo a lei’, no sentido de que a graça de Deus os libertou do domínio do pecado e da condenação da lei, mas ainda estão “sob a Lei” no sentido de estarem sob a obrigação de pautarem a vida pelos princípios morais dela.” Efésios 2:8
Paulo não está querendo insinuar aqui que no Antigo Testamento as pessoas eram salvas pelas obras e que no NT são salvas pela graça. Desde o Gênesis até o Apocalipse, o método de salvação de Deus foi sempre o mesmo: pela graça mediante a fé.


Dom Gratuito.

A salvação é um “dom gratuito” (Rom. 6:22), não condicionado a nenhum mérito humano. É uma expressão da atitude espontânea de amor da parte de Deus. No processo da salvação, podemos dizer que Deus toma a iniciativa de salvar quem não merece ser salvo: estende graciosamente através do abismo a mão poderosa com a dádiva (perdão, justificação e santificação) e nós, pelo impulso do Espírito, estendemos pela fé nossa mão vazia e impotente em direção à dádiva, crendo que receberemos o que Deus está ofertando. O preço da salvação é sempre o sangue de Cristo. As maiores e melhores boas obras que possamos fazer não entram nesse preço, nem mesmo como parte mínima.


Requer Obediência.

A graça, porém, não nos isenta da obediência à lei de Deus. Pelo contrário, a existência da graça é uma das maiores provas de que a Lei está em vigor. Foi por causa de nossas transgressões da lei que a graça se tornou necessária, tanto para perdão de nossos pecados como para capacitação da obediência (Rom. 5:20). Ainda que as obras não sejam causa da salvação, são com certeza efeito delas (ver Rom. 3:31). A fé não anula a obediência. Pelo contrário, confirma a lei (Rom. 3:31). A verdadeira fé se manifesta em boas obras. Embora não seja um substituto da fé, a obediência é uma conseqüência natural e necessária da fé. Pelo fruto se conhece a árvore. A árvore é minha profissão de fé; o fruto são minhas ações. Se minha fé é genuína, meu fruto será obediência à lei. O fruto, no entanto, é posterior à árvore. Não é a maçã que faz da árvore de que surgiu uma macieira; é a árvore que faz seu fruto ser maçã.
Portanto o fato de sermos salvos pela graça mediante a fé, sem as obras da lei, não significa que estejamos autorizados a transgredir a lei.







A JUSTIFICAÇÃO

1. ABORDAGEM DE PAULO
Que diremos, pois, ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne? Porque, se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus. Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Ora, àquele que faz qualquer obra, não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida. Mas, àquele que não pratica, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça. (Romanos 4.1-5)
A salvação pela fé, e não pelas obras (pela guarda da Lei), não é uma doutrina peculiar do NT; é, também, característica do AT. Paulo retrocede no tempo, para além de Moisés, e toma Abraão como exemplo de fé. Abraão tinha fé em Deus, isto é, cultivava um dedicado e leal relacionamento com seu Deus, cria nas suas promessas (Rm 4.20,21; Gn 12.1-3; 15.5,6) e vivia em obediência ao Senhor (Gn 12.1-4; 22.1-19; Hb 11.8-19; Tg 2.21,22;).
A fé de Abraão foi "imputada" por justiça. "Imputar" significa creditar na conta da pessoa. Isso significa que a fé salvífica do cristão é tida como equivalente à justiça no tocante ao seu efeito. (1) Paulo fala seis vezes, em Rm 4, de "imputar" ou "atribuir a justiça" ao crente, e, em cada caso, Paulo afirma claramente que é a "fé" do crente que lhe é contada ou imputada como "justiça" (Rm 4.3,5,6,9,11,22; Gn 15.6). (2) Imputar a fé do crente como justiça não é, porém, resultado exclusivo da nossa fé em Cristo ou da nossa entrega a Ele; é, acima de tudo, um ato de graça e misericórdia divinas (Rm 4.16). (3) Quando Deus vê o coração do crente voltado para Cristo com fé, Ele lhe perdoa, graciosamente, os pecados, imputa-lhe a fé como justiça e aceita-o como seu filho (Rm 4.5-8;). Juntamente com essa imputação da fé como justiça, Deus também outorga sua graça para a santificação (Rm 4.16; 5.2; Fp 3.9; Tt 3.5-7). (4) A fé, que é imputada como justiça e que traz o perdão, é a fé em Cristo, tendo em vista a sua morte expiatória (Rm 3.24-26). Absolutamente nada mais, a não ser a morte sacrificial de Cristo na cruz constitui o fundamento da reconciliação do pecador com Deus (Rm 5.10).
Paulo faz uma citação do Sl 32.1,2 mostrando que tanto Davi como Paulo criam que a fé contada como justiça, abrange o perdão do pecado e a reconciliação com Deus. É uma dádiva da misericórdia de Deus através da morte de Cristo na cruz (2 Co 5.19,21).
A fé que Abraão tinha era uma fé genuína, pela qual ele perseverava, cria, confiava, obedecia, fortalecia-se e dava glória a Deus (Rm 4.16-21). Esse é o tipo de fé que nos torna filhos de Deus. Os crentes são salvos somente pela fé, mediante a graça. Devem ser notadas, no entanto, duas verdades bíblicas a respeito da natureza da fé para salvação. (1) Embora a pessoa seja salva pela fé somente, a fé que salva não é algo único. Tiago declara que "a fé sem obras é morta" (Tg 2.14-26); Paulo diz que é "a fé que opera por caridade" (Gl 5.6). A fé, para a salvação, é uma fé tão vital que não pode prescindir da expressão do amor, da obediência para com o Salvador e de serviço ao próximo. A fé que consiste na confiança em Deus, para o perdão dos pecados, mas que não inclui, da parte do pecador, um sincero arrependimento do pecado e também um compromisso ativo com Cristo como Senhor, não corresponde à fé para salvação segundo o NT. (2) É antibíblico enfatizar a "fé" em si mesma, e ignorar o amplo desígnio da salvação e daquilo que ela significa. A salvação pela fé inclui não somente ser salvo da condenação, mas também ser salvo para comunhão com Deus, para santidade e para serviço, isto é, a prática das boas obras (Ef 2.10)
Se a salvação, a justificação e a justiça que Deus outorga viessem pela nossa perfeita obediência à Lei, ninguém seria salvo, porque ninguém jamais a cumpriu de modo perfeito. Mas, posto que a salvação é pela fé, mediante a graça, poderão ser salvos todos aqueles que buscam a Deus. Ele, por sua misericórdia, perdoa os nossos pecados e outorga-nos a sua graça (isto é, seu Espírito e seu poder), para regenerar nossa vida e nos tornar seus filhos.
Na ilustração que Paulo deu da justiça no capítulo 4, ele não declara em parte alguma que a justiça de Deus ou de Cristo é, na realidade, imputada ou comunicada ao crente. Devemos tomar cuidado para não descrever a justificação como decorrente da guarda da Lei do AT por Cristo, e daí comunicada, por Ele, ao crente. Se a justificação fosse pelos méritos da guarda da Lei, transferidos ao homem, então não se trata do mesmo tipo de fé que Abraão teve (Rm 4.12), e isso, por sua vez, anula a promessa (Rm 4.14) e torna a salvação um resultado do mérito, e não da graça (Rm 4.16). Paulo declara enfaticamente que a justificação e a retidão não decorrem da Lei (Rm 4.13), mas da misericórdia, graça, amor e perdão de Deus (Rm 4.6-9), e que a fé de Abraão (isto é, sua crença, sua dedicação a Deus, sua forte confiança e inabalável firmeza em Deus e nas suas promessas), lhe é atribuída como justiça, pela misericórdia e graça de Deus (Rm 4.16-22).
Paulo não aceita o valor das obras da lei para a justificação do homem. Em Rm 4.1-5, ele diz que Abraão foi justificado pela fé, sendo-lhe isso imputado como justiça. O apóstolo, considerando que todos estão debaixo do pecado (Rm 3.9) ressalta que "não há quem faça o bem, não há nenhum só" (Rm 3.12). "Por isso, nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado" (Rm 3.20).
Paulo afirma claramente que, quanto à salvação pela fé em Cristo, "aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição" (Gl 3.10), visto que a lei considera maldito todos aqueles que permanecem "em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las". Por que a letra (as exigências da lei) mata, e o Espírito vivifica" (2 Co 3.6). O apóstolo diz que a lei serviu para "nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados" (Gl 3.24), e conclui: "Mas, depois que a fé veio, já não estamos debaixo da aio" (Gl 3.25). A palavra afirma ainda como doutrina que "o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo", "para sermos justificados pela fé de Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada" (Gl 2.16).
Abraão estava com 75 anos quando partiu de Harã. Deus prometera-lhe multiplicar a sua descendência, e dar-lhe a terra de suas peregrinações. Promessa esta ratificada quando Abraão era já velho, o qual não duvidou do poder de Deus nem de sua promessa. Abraão não levou em conta a sua idade nem a de Sara, cujo período de maternidade já havia passado. Além disso Sara era estéril. Essa fé em Deus foi-lhe imputada como justiça. Todo capítulo 4 de Romanos gira em torno de Gn 15.6: "E creu ele no SENHOR, e foi-lhe imputado isto por justiça". O apóstolo está mostrando que Abraão foi justificado diante de Deus pela fé e não pelas obras. Essa passagem citada por Paulo não foi uma escolha aleatória. As boas obras de Abraão eram frutos de sua fé em Deus. Ninguém agradece o seu patrão por haver recebido seu salário, porque o patrão cumpriu o seu dever, retribuindo-lhe um serviço prestado. "Ora, àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida" (Rm 4.4).
A fé em Cristo, diz Paulo, é o meio pelo qual a justiça é recebida e a justificação é proporcionada. Os pecadores são justificados "por" ou "mediante" a fé (em grego, pistei ou ek pisteos). Paulo não reputa que a fé seja a base da justificação. Se o fosse, a fé seria uma obra meritória, e Paulo não teria sido capaz de denominar o crente de "ao que não trabalha" (Rm 4.5); nem poderia prosseguir à sua afirmação que a salvação é "segundo a graça" (v. 16), pois a graça exclui de modo absoluto as obras (Rm 11.6). Paulo cita o caso de Abraão, o qual "creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça", a fim de provar que o homem é justificado mediante a fé independentemente de obras (Rm 4.3 ss. Citando Gn 15.6). Em Rm 4.5,9 Paulo se refere ao texto do livro de Gênesis o qual ensina que a fé de Abraão foi imputada como "justiça". Tudo quanto ele quer dizer, entretanto, conforme fica demonstrada pelo contexto, é que a fé de Abraão - dependência de todo o coração na promessa de Deus (v. 18 ss.) - foi o motivo e meio de sua justificação. Para (eis), dentro da frase "imputado para justiça", pode significar tanto "como" (por equivalência real, ou algum método arbitrário de avaliação), ou então pode significar "tendo em vista", "dando em resultado", "conducente a". Essa última alternativa é certamente a correta. Paulo não estava sugerindo que a fé, considerada quer como retidão, verdadeira ou ainda incompleta, quer como um substantivo da retidão, seja a base da justificação. O quarto capítulo da epístola de Romanos não aborda de maneira nenhuma a base da justificação, mas tão somente o meio de adquiri-la.

2. A ABORDAGEM DE TIAGO

Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras? Porventura, a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e lhes não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. Tu crês que há um só Deus? Fazes bem; também os demônios o crêem e estremecem. Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta? Porventura Abraão, o nosso pai, não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque ? Bem vês que a fé cooperou com as suas obras e que, pelas obras, a fé foi aperfeiçoada, e cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus. Vedes, então, que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé. E de igual modo Raabe, a meretriz, não foi também justificada pelas obras, quando recolheu os emissários e os despediu por outro caminho? Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta. (Tiago 2.14-26)

2.1 TIAGO NÃO CONTRADIZ PAULO

Sob a suposição de que Tiago 2.14-26 ensina que Deus aceita os homens sobre a dupla base de fé e obras, alguns têm imaginado que Tiago deliberadamente contradisse o ensino paulino sobre a justificação pela fé independentemente de obras, por julgá-la antinominiana (Rm 3.8). Porém, isso sem dúvida alguma mal entende o ponto que Tiago abordava. Deve ser relembrado que Paulo é o único escritor do Novo Testamento a empregar a palavra "justificar" como termo técnico para o ato de Deus mediante o qual Ele aceita os homens quando nele confiam. Quando Tiago fala em "ser justificado", parece que usava a palavra em seu sentido mais geral de ser vindicado, ou de ser comprovado como genuíno ou correto perante Deus e os homens, em face de possível dúvida de que alguém era tudo quanto professava ser ou era declarado ser. Ser justificado, nesse sentido, significa ficar demonstrado como crente genuíno, significa que o indivíduo demonstra a existência através de suas ações impelidas por essa fé. Essa justificação, em realidade, é uma manifestação da justificação com a qual Paulo se ocupara. Tiago cita Gn 15.6 com o mesmo propósito de Paulo - demonstrar que foi a fé que garantiu a aceitação de Abraão por parte de Deus. Porém, agora, argumentava Tiago, essa declaração foi cumprida (confirmada, demonstrada como verídica, e levada ao seu término esperado mediante certos acontecimentos) trinta anos mais tarde; "Abraão foi justificado, quando ofereceu sobre o altar seu próprio filho, Isaque" (Tg 2.21). Mediante essa ação, a sua fé "se consumou", isto é, foi levada à devida expressão por meio de atos apropriados; e assim ficou extremamente demonstrado que Abraão era um verdadeiro crente. O caso Raabe é paralelo (Tg. 2.26). O intuito de Tiago nesse texto, é simplesmente que a "fé", isto é, a simples ortodoxia tal qual como aquela que os demônios também possuem (Tg. 2.19), quando desacompanhada pelas boas obras da fé, não provê base suficiente para que se infira que determinado indivíduo esteja salvo.

2.2 TIAGO CONTRADIZ PAULO

Aquilo que Abraão fez, fê-lo para agradar a Deus e obter o seu favor. Não há em Tiago qualquer indício de que a justificação de Abraão tivesse sido "diante dos homens", e não diante de Deus. Dizer-se que a justificação no livro de Tiago, era "diante dos homens" (para comprovar a justificação já realizada na alma), ao passo que a de Paulo era "diante de Deus", e que, portanto, o tipo ensinado por Tiago precisava das obras "para provar sua realidade", ao passo que essa necessidade não existia no caso de Paulo, é uma interpretação que tenta uma "harmonia a qualquer preço".
Notemos como o versículo 23 relaciona a justificação, segundo as idéias de Tiago, à questão da "retidão imputada". Por certo, a retidão imputada trata da própria salvação, e não sobre como poderei comprovar, diante dos homens, que sou um homem justo. A abordagem paulina, no quarto capítulo da epístola aos Romanos, tem a mesma espécie de declaração. Em ambos os casos, essa imputação da retidão tem a própria salvação em mira.
Por conseguinte, embora Tiago e Paulo tivessem conceitos diferentes sobre como se realiza a salvação, o alvo da justificação era o mesmo para ambos, a saber, a "redenção humana".
Também é falsa aquela distinção que supõe que a justificação, segundo Tiago, contemplava "o curso inteiro da salvação", ao passo que Paulo via somente a declaração forense da justificação. A justificação, para Paulo, também contemplava o curso inteiro da salvação, por ser ela a semente tanto da justificação quanto da glorificação.
Ainda que Paulo tivesse querido salientar somente a ato forense inicial, contudo ele mostra que a "santificação" deve dar prosseguimento àquilo que é iniciado na conversão e na justificação. Pois tudo isso, considerado juntamente, é que nos dá a "salvação".
Justificar pode significar pronunciar reto, "mostrar ser reto", ou "tornar-se reto". Tanto Tiago como Paulo combinam a primeira e a terceira dessas idéias. A santificação consiste em "tornar reto"; e é ela a fruição da justificação que conduz à vida eterna (Rm 5.18).
"O sentido da palavra justificação", nos escritos paulinos, não difere do uso que ele já encontrou corrente em seus dias, embora sua doutrina teológica da justificação, que ele expôs com a ajuda desse termo, fosse altamente original. E o sentido de Tiago 2.2 não se afasta de modo algum do que era ordinário.... A afirmativa que "vem das obras" corresponde ao ponto de vista judaico usual, de acordo com um sentido comum um tanto superficial... Que Abraão foi justificado e salvo, naturalmente, era algo reconhecido por todos; que sua justificação dependeu não meramente do ato inicial da fé, mas também de sua manifestação confirmatória, sob o teste, é o que Tiago assevera. Isso, pensa ele se torna mais claro ao tecer alusões ao grande incidente do sacrifício de Isaque (Gn 22.2), mediante o qual foi testada a realidade vital da fé de Abraão, e ao que se seguiu a renovação da promessa (divina) (Gn 22.15-18). Se Abraão não tivesse passado nesse teste, ficaria demonstrado que sua fé era fraca e, sem dúvida, teria impedido a sua justificação; portanto, é inevitável a inferência extraída do grande caso representativo de Abraão. Ao mesmo tempo, a real contenção de Tiago, nos versículos vigésimo e vigésimo segundo, não é tanto a necessidade das obras, mas quão vitalmente inseparável é a combinação da fé e das obras. Tudo isso é dito em respostas à sugestão, levantada no décimo oitavo versículo, que a fé e as obras são funções inseparáveis na vida cristã.
Alguns interpretes reduzem a justificação, neste ponto, à idéia que as obras "sempre estão vinculadas à fé". Porém, como pode isso significar "justificação"? Não corresponde nem ao sentido da palavra e nem ao seu emprego. Também não há aqui qualquer idéia de que as obras meramente "provam" a existência da fé existe. O uso judaico em geral labora contra isso, e o próprio cristianismo nunca concebeu tal uso no vocábulo, em todo o N.T. Não há qualquer motivo para que se entenda esta palavra em qualquer sentido diferente daquele que era usado nos tempos de Tiago, nas comunidades religiosas cristãs. A justificação, pois, deve significar "favor diante de Deus", a fim de que sua aceitação e aprovação sejam obtidas. Não há qualquer dúvida e quem pode demonstrar o contrário? Que o judaísmo sempre creu que as obras são necessárias para a correta posição diante de Deus. No judaísmo nunca houve a idéia de "basta a fé para a justificação". Tiago simplesmente refletiu a tradição judaica de seus dias, que foi aproveitada pelo cristianismo legalista (At 15).
Alguns intérpretes, usando de sutilezas, mostram que o ato de fé de Abraão, por causa do qual foi chamado de justo (Gn 15.6), procedeu, por considerável período, o seu ato de obediência, referido em Tiago 2.21. E assim supõem que seu ato posterior de obediência foi apenas uma "prova" da retidão que já possuía. Porém, esse sutil raciocínio nunca fizera parte das explicações judaicas sobre o assunto, e nem é o que está em foco no presente texto. Bem pelo contrário, a ordem cronológica dos acontecimentos foi revertida pelo autor sagrado. O vigésimo primeiro versículo fala do ato de obediência, e o vigésimo terceiro versículo fala do ato inicial de fé. Isso mostra que o autor sagrado não punha a fé em primeiro lugar. De fato, ele não estava fazendo qualquer distinção cronológica. Para ele, ambos os lados juntamente considerados - a fé e as obras são inseparáveis, e é isso que justifica o homem. Essa é a única interpretação possível da passagem de Tiago 2.21, sem perversões, e nisso é que os judeus sempre creram e sempre ensinaram. Por que pensaríamos que é estranho encontrar aqui a simples representação do cristianismo legalista? E o que é aqui ensinado corresponde a verdade, se pensarmos misticamente, e não legalisticamente, nas obras. Infelizmente, o autor sagrado expôs a questão sob moldes legalistas. Podemos rejeitar sua maneira de exprimir o assunto, mas mesmo assim somos obrigados a aceitar a verdade na direção da qual ele se esforçava por chegar.


A palavra “expiação” ocorre só uma vez na versão do Rei Tiago em o Novo Testamento. Vide Romanos 5:11. Aqui está uma tradução de “katallage”. Este substantivo grego ocorre em três outras passagens: uma vez em Romanos 11:15, onde está traduzido “reconciliando”; uma vez em 2 Coríntios 5:18, onde está traduzido “reconciliação” e uma vez no verso seguinte, onde outra vez está traduzido “reconciliação”.
O verbo grego “katallasso”, correspondente ao nome “katallage”, acha-se também em 2 Coríntios 5:18,19; em Romanos 5:10 e 1 Coríntios 7:11. Em cada um destes casos está traduzido para significar “reconciliar”.
Segundo o uso do grego, a palavra “expiação” pode ser usada tanto da provisão da base objetiva de salvação, na qual temos uma expiação potencial, como da realização atual da salvação, na qual temos uma expiação atual na aplicação dos benefícios da morte de Cristo e a oferenda do Seu sangue no templo celestial.
O verbo grego “katallasso” está usado no primeiro sentido em 2 Coríntios 5:19, onde lemos: “Deus estava em Cristo reconciliando o mundo consigo mesmo, não lhes imputando os seus pecados”. O sentido aqui é que Deus estava reconciliando o mundo Consigo mesmo por lançar os seus pecados sobre Cristo. Refere-se, pois, a passagem ao que se realizou na morte de Cristo e não ao que se realizou através do Seu ministério Profético, predicante.
É neste sentido que a palavra “expiação” é ordinariamente empregada nas discussões teológicas, sentido em que a usamos neste capítulo.
I. A IMPORTÂNCIA DA EXPIAÇÃO
A expiação é o tema central do cristianismo. Tudo que a precede, olha para frente e tudo que a segue olha para ela atrás. Pode-se ver sua importância revendo os fatos seguintes:
1. ELA É O TRAÇO DISTINTIVO DO CRISTIANISMO
O cristianismo é a única religião com uma expiação. Conta-se que há alguns anos passados, quando se reuniu uma Parlamento de Religião na Exposição de Chicago, Joseph Cook, de Boston, o orador escolhido do cristianismo, levantou-se, depois de terem sido apresentadas outras religiões, e disse: “Eis aqui Lady Macbeth com as suas mãos manchadas com a morte infame do Rei Duncan. Vede-a como perambula pelas salas e corredores de sua casa palacial, detendo-se para gritar. “Fora, mancha danada! Nunca mais estas mãos ficarão limpas?” O representante do cristianismo virou-se para os adeptos de outras religiões e os desafiou triunfantemente: “Pode alguém de vós que estais tão ansiosos de propagar vossos sistemas religiosos proporcionar qualquer eficácia purificadora para o pecado e a culpa do crime de Lady Macbeth? Emudeceram, porque nenhum deles teve uma expiação a oferecer.
2. ELA VINDICA A SANTIDADE E A JUSTIÇA DE DEUS
Não podia haver em Deus verdadeira santidade e justiça se Ele permitisse ao pecado passar impune. A santidade proíbe semelhante encorajamento do pecado. A justiça requer retribuição.
3. ELA ESTABELECE A LEI DE DEUS
Sem expiação a salvação dos crentes deixaria a lei vã, letra morta. Vide Romanos 3:31 e Hebreus 2:2.
4. ELA MANIFESTA A GRANDEZA DO SEU AMOR
De nenhum outro modo podia Deus ter manifestado maior amor pelo Seu povo do que por dar o Seu único Filho unigênito para morrer em lugar dele povo. Vide João 3:16, 15:13; Romanos 5:8; I João 4:9.
5. ELA PROVA A AUTORIDADE DIVINA DOS SACRIFÍCIOS DO VELHO TESTAMENTO
Vemos na expiação de Cristo o antítipo mais belo dos sacrifícios do Velho Testamento. E vemos nesses sacrifícios um método efetivo de apontar à necessidade de expiação e um tal quadro da expiação real como guiaria o iluminamento a espiritualmente inculcar através do véu de sombra à verdadeira luz. A divina autoridade dos sacrifícios do Velho Testamento não apresenta dificuldades ao que crê que a morte de Cristo foi substitucionária; mas, os que desejam negar este último fato também sabem que Deus instituiu os sacrifícios de animais do Velho Testamento.
6. ELA FORNECE A PROVA DEFINITIVA DOS SISTEMAS TEOLÓGICOS
Por sua atitude para com a expiação, os sistemas teológicos classificam-se em pagãos ou cristãos. A oposição deles quanto à expiação também reflete sua idéia da natureza de Deus, de Sua Lei e do pecado.

II. A NATUREZA DA EXPIAÇÃO

1. IDÉIAS FALSAS DA EXPIAÇÃO
(1). A idéia governamental
Esta idéia sustenta que o propósito da expiação foi impedir que o perdão dos pecadores por Deus encorajasse o pecado. A salvação dos pecadores não exige que eles levem a penalidade dos seus pecados. O seu virar do pecado para Deus é suficiente para justificar Deus em salva-los; mas o perdão dos culpados, sem alguma exibição do ódio de Deus contra o pecado e de Sua consideração pela Lei, licenciaria o pecado e roubaria qualquer autoridade sobre as consciências dos homens.
(2). A idéia de exemplo
Esta idéia sustenta em comum com a governamental que a morte de Cristo não foi substitucionária: sustenta que Deus não precisou de ser propiciado em benefício do pecador; que o único óbice à salvação dos pecadores jaz na prática contínua do pecado pelo pecador. Reforma, portanto, é o remédio adequado e isto pode ser efetuado pela própria vontade do homem. Para encorajar-nos nisto Jesus morreu como um nobre mártir, exemplificando uma devoção abnegada que escolheu a morte antes que falhasse do Seu dever a Deus e ao homem. Somos salvos, não por confiar nEle como nosso porta-pecado senão por confiar em Deus segundo Seu exemplo e assim devotando-nos à justiça.
Esta idéia sustenta em comum com ambas as primeiras que o pecado não traz culpa que deva ser removida: não é a culpa senão a prática do pecado que impede a salvação. A morte de Cristo foi somente uma exibição de amor para abrandar o coração do homem e levá-lo ao arrependimento. “Os sofrimentos foram necessários, não para remover um obstáculo ao perdão de pecadores que existe na mente de Deus senão para convencer os pecadores de que não existe tal obstáculo” (Strong).
(4). A idéia de depravação gradualmente extirpada.
Esta idéia está definida por Strong como segue:
“Cristo tomou a natureza humana como ela estava em Adão, não antes mas depois da queda, - a natureza humana, portanto, com a corrupção nata e predisposta para o mal moral; que, não obstante a possessão desta natureza inquinada e depravada, Cristo, pelo poder do Espírito Santo, ou de Sua divina natureza, não só guardou Sua natureza humana de se manifestar em pecado atual ou pessoal, mas purificou-a gradualmente, por meio de luta e sofrimento até que na Sua morte Ele extirpou completamente sua depravação original e a reuniu com Deus. Esta purificação subjetiva da natureza humana na pessoa de Jesus constitui Sua expiação e os homens não são salvos por qualquer propiciação objetiva senão somente por se tornarem através da fé participantes da nova humanidade de Cristo”.
Há outras duas idéias da expiação que os teólogos comumente discutem sob teorias falsas ou inadequadas da expiação aqui não daremos tratamento especial. Referimo-nos a idéia de acidentes e à comercial. A primeira sustenta que a morte de Cristo foi um acidente imprevisto e não antecipado por Cristo. Esta idéia é tão manifestamente absurda que não merece aqui o espaço que ela tomaria para refutá-la. Não damos aqui atenção especial à idéia comercial da expiação porque ela envolve tanta verdade que achará exame sob a epígrafe da idéia correta da expiação.
2. A IDÉIA CORRETA DA EXPIAÇÃO.
A idéia correta da expiação, que concebemos como sendo a correta, reconhece o elemento de verdade em cada uma das seguintes teorias que tem recebido especial menção e também combina o que são costumeiramente chamadas idéias comercial e ética, mas esta vai mais longe do que qualquer delas.
(1). Verdades reconhecidas noutras idéias.
A. Uma falha em punir o pecado derrubaria o governo divino.
Este é o elemento de verdade na idéia governamental, mas isto é só um dos muitos elementos de verdade envolvidos na expiação. Uma simples exibição do ódio de Deus contra o pecado sem medir uma justa penalidade, portanto, não consegue e não conserva inteiramente os interesses do governo divino. Qualquer exibição do ódio divino para com o pecado agirá como um óbice ao pecado e assim tenderá a manter governo, mas, até ao ponto em que essa exibição do ódio divino se frustre da justa penalidade, ela fracassa em fornecer um óbide ao pecado que honre completamente o governo divino.
B. Na morte de Cristo temos um exemplo inspirador.
É um exemplo de abnegada devoção a Deus e ao homem. E o povo salvo (não os perdidos) são mandados seguir este exemplo. Vide Mateus 16:24; Romanos 8:17; 1 Pedro 2:21, 3:17 e 18; 4:1 e 2. Mas, que Cristo não morreu meramente como um nobre mártir, evidente é de Sua própria atitude para com a Sua morte. Se Ele morreu apenas como exemplo, então Ele supriu exemplo muito pobre. Muitos mártires humanos tem ido para a fogueira sem um sinal de angustia; todavia, o Senhor Jesus Cristo suou como se fossem grandes gotas de sangue no horto. Muitos mártires desfrutaram um vívido senso da presença de Deus na hora da morte, mas o Senhor Jesus Cristo foi desertado pelo Pai na hora da morte. Contrastai a atitude de Cristo perante a morte com a de Paulo.
C. Na morte de Cristo temos uma exibição de amor de Deus.
Vide João 3:16; Romanos 5:8; 15:13; 1 João 4:9. E esta exibição deveria mover os homens ao arrependimento. Este é o elemento de verdade na idéia de influência moral da expiação; mas, que a expiação foi mais do que uma simples exibição de amor far-se-á manifesta ao passo que avançamos.
D. Através da morte de Cristo somos feitos participantes da vida de Cristo.
Vide 2 Coríntios 4:11; 5:14-17; 12:9 e 10; Gálatas 2:20; 2 Pedro 1:4. Este é o elemento de verdade na idéia de depravação gradualmente extirpada da expiação; mas, atingimos esta nova vida em Cristo em conjunção com a fé nEle como nosso porta-pecado. Esta idéia recém mencionada nega:
(2). Outras verdades reconhecidas.
A verdadeira idéia da expiação reconhece todas as verdades das outras idéias, mas reconhece mais. Erram os que acentuam um elemento de verdade com exclusão de outros.
Outras verdades reconhecidas pela verdadeira idéia da expiação, são:
A. A verdade quanto à natureza de Deus.
Tudo das falsas idéias a que temos dado especial atenção nega que haja qualquer obstáculo que seja em a natureza de Deus ao perdão dos pecadores. O entrave supõe-se ser todo ele de parte do pecador. O sofrimento de Cristo não foi em nenhum sentido uma satisfação de qualquer princípio em a natureza divina.










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